21 de dezembro de 2016

Marcas do tempo - quarta parte

- Estou sem fome!; pensou quando chegou a cozinha, - Não quero preparar nada complicado para comer; mesmo que quisesse,  seu cardápio não era variado, nem em condimentos, nem em especialidades, normalmente fazia um arroz, com ovo frito e um pedaço de carne com molho de tomate, todos os dias. Nunca faltava carne, a maioria dos alimentos eram ganhos em troca de trabalho, sua aposentadoria não lhe ajudaria em preparar um banquete, e poder comer carne, já era de bom grado.

Todos os dias, ajudava os feirantes a montarem suas barracas no comércio popular, não era um trabalho dos mais fáceis, mas ele precisava, então não reclamava, agradecia o pouco que lhe davam, mesmo se não dessem nada ele faria, apenas para sentir-se útil, e os feirantes o ajudariam com ou sem trabalho, gostavam deve. O conheciam a muito tempo.

Na primeira vez que ele chegou à feira, foi há muito tempo, recém voltara do campo, ainda era jovem, apesar das marcas no corpo e as cicatrizes no rosto não condizerem. Foi num verão muito quente, logo que desceu do ônibus, foi a praça reencontrar a sua amiga, e lá estava ela, no mesmo lugar, grande, forte e bonita, lindas flores cobriam seus galhos, olhas verdes. Ficou por um tempo parado em sua frente olhando-a como se fosse a única coisa que existisse naquele lugar, largou a pesada mochila no chão, caminhou até ela e começou a acariciar seu tronco. Nele ainda havia marcas em formatos de coração que com o tempo fora descascando, hoje não mais permitido fazer.

Ao final da tarde retornava ao comércio para terminar a sua tarefa, depois de desmontar as barracas, recolhia seu por assim dizer salário e voltava para a casa, não sem antes olhar o seu retrato.


francoa

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