28 de maio de 2009

O estranho

Todos sabiam dele, o conheciam, na verdade ninguém talvez o conhecesse pessoalmente, mas sabia de quem falavam, era baixinho, meio gordo, desengonçado, mas era engraçado. As vezes meio inoportuno, um pouco atrapalhado, se vestia bem. Cheirava nem tanto, parecia que usava talco, era algo esquisito, não sei o que.
Muito inteligente, conhecia a todos e a todas as suas manias, muito culto, lia muito e também entendia de economia, política, nem tanto sobre religião, parecia mais um ateu revoltoso, mas sabia dos cavaleiros e suas ordens, ja lera sobre o velho da montanha, os Hashins, Ganas e Marsopiais.
Possuia um exemplar, cópia é claro dos evangelhos apócrifos, manuscritos do mar morto e cartas de eclesiáticos. Conhecia realmente os cavaleiros, realmente ele os conhecia, Mormans, Maçons e todos os Grão Mestre, por ordem. Sabia de todos os Papas e seus pecados, dogmas e anistias.
Ele realmente era incrível.
e eu?
Eu também não gostava dele.

francoa

2 de maio de 2009

ao mesmo tempo de não ser.

Ouça uma musica, mesmo que você não goste de ouvir.
Sem preconceitos, nem credo.
Sem luz ou trevas, apenas um breve som, algo que rompa o espaço.
Algo que te transforme, ou em algo bom ou mau, não importa.

Você consegue me entender?
Tente, não custa tentar.

Procure um homem honesto numa terra honesta.
Procure um grande amor, no pais das maravilhas.
Procure uma faca e se cortará.
Se quiser, não custa tentar.

Saiba que vais envelhecer, sempre serei jovem.
Não importa o quanto você me veja, minhas cores em azul e rosa.
Nunca me marcará.
Não te deixarei respirar.

Agora pule, ou ainda não sabes pular.
Preocupe-se com o passado, e o futuro passará.
Minha vida toda enrolada em finas linhas de carvão.
Velhas agulhas a me riscar.
Nunca me deixará mofar.

Meu único lado não basta.
Tente me virar, tire minha pele e talvez consiga.
Pense em tudo o que lhe disse.
Mas lembre-se sempre.
Eu nunca, mas nunca mesmo...

francoa

Melancolia

Ah!!! a melancolia, esta sensação de tristeza, uma dor inconsolável, sensação que todos os planos serão frustrados, de que não há amor no mundo.
Sensação de que os olhos brilham quando olham para os outros ou ficam fosco ao nos fitarem.
Gosto de acordar em dias distantes, tomar um copo dágua, pegar um copo na cristaleira, não o primeiro da frente, aquele segundo, escondido no canto, colocar sobre a mesa e apenas olha-lo por alguns instantes esperando que alguém diga, pronto chegou à hora.
Então vou até o barzinho no canto da sala e pego a única que olha pra mim com ternura, entre garrafas de cervejas e vinhos há duas garrafas de whisky.
Mas tem que ser a única, especial, retangular, caramelo, bocal redondo, selo bege, e um odor que me encanta.
Já nem coloco mais ela dentro de sua caixa, ela fica sempre a amostra, para podermos conversar com mais facilidade, mas sempre ao fundo, nunca tão a vista. Deslizo-a sobre a mesa até que se encontre com seu algoz, sempre com a sua boca olhando diretamente em meus olhos, abro seu zíper deixando a amostra ventre, em seu delicado liquido cai suavemente em meu copo como um gozo, apenas umas gotas para molhar minha língua, um pequeno deslize, então completo meus três dedos de bebida.
Em pequenos instantes estou apreciando minha natureza remoendo meus pensamentos em sensações que transitam entre a dor e o prazer, como uma virgem sendo explorada.
Mas estes dias são tão deliciosos.

francoa