30 de outubro de 2008

A Lei da Atração !!!

Agora o que mais me atrai são os olhos, e sempre foi assim, bom, se sempre foi assim, então, porque começar este texto com "agora"?
O motivo é bem simples, ou até mesmo possa parecer estúpido, somente agora percebo que o que sempre me encantou foram os olhos. Nas propagandas mostravam seios, barrigas e bundas, e até acho muito sensual, mas não era nada daquilo que mais me encantava.
Adoro os olhos, são partes muito frágeis do nosso corpo, e ele como um todo pode ser trabalhado, musculação, botox e outras coisas.
Mas os olhos não! Somente uma lente pode ser colocada como disfarce.
Uma pequena pele encobrindo seu verdadeiro eu!!!!
Os olhos contém um mistério, são partes fundamentais de uma expressão...
Lembre-se daquele olhar, da garota na boate (ou do rapaz, como preferir), aquele que parece que te chama, e quando você responde ele some num piscar te provocando. Sim este é o olhar. Aquele que você a encontra, e ela joga seus olhos ao chão, te convidando para uma conversa, convidando-te para um simples “oi”, você atende ao pedido e eis que ela vai subindo seus olhos vagarosamente angustiando-te até ambos se fitarem.
Estes são os olhos que me encantam.

francoa

Tragédia

Disseram:
- Dê um passo adiante e já não estará mais no mesmo lugar.

Ele acatou.
Mas estava na beira do precipício...

Agora ele não está mais em lugar algum.



[marcelo doro]

14 de outubro de 2008

Sobre seios, silicone e filosofia


Bem, a ordem não vai ser exatamente aquela anunciada pelo título. Inverto a ordem dos prazeres e começo com a filosofia, que é bem menos aconchegante que o peito feminino, mas que também pode render alguns deleites.

Há quem ignora a influência grega sobre a atual sociedade, mas ela existe, profundamente enraizada no nosso modo de conceber o mundo. Não vou entrar em pormenores, apenas darei um exemplo periférico: perceba o jeito como cada um de nós se refere às partes do próprio corpo. “Minha” mão, “meu” pé, “minha” barriga... Usamos pronomes possessivos, como se essas coisas fossem propriedades. Mas, oras?!, propriedade de quem? Afinal, “somos” um corpo, ou “temos” um corpo?

Facilmente podemos concluir, hoje, que somos esse corpo que sofre a dor e goza o prazer. Somos esse corpo belo ou feio que reflete no espelho. Sendo assim, se somos esse corpo, porque dizer que ele é “nosso”? Aqui que entram os gregos. Um grego em especial: o Platão. Ele estava preocupado em resolver um problema que afligia seus contemporâneos: como explicar a mudança das coisas e, ao mesmo tempo, justificar a possibilidade do conhecimento? Por um lado, a observação mostrava que o mundo e as coisas estavam constantemente se transformando (tudo flui... ninguém entra duas vezes no mesmo rio – disse Heráclito) e, por outro lado, se se considerar que as coisas realmente estão em constante mudança, como poderíamos falar com conhecimento sobre elas? Se esse fosse o caso o nosso saber sobre o mundo estaria sempre desatualizado, pois quando achamos que compreendemos algo, aquilo já não é mais!

Pode parecer uma discussão trivial, mas foi decisiva para os rumos da civilização ocidental. Foi esse dilema que instigou Platão a desenvolver o seu sistema filosófico, baseado em dois mundos: o mundo das coisas sensíveis e perecíveis – o mundo que se tranforma, se altera – e o mundo supra-sensível – o mundo das coisas constantes, que não mudam. O mundo sensível, como o nome sugere, é composto por coisas acessíveis aos sentidos; tudo o que podemos sentir, tocar, ver e etc. Já o mundo supra-sensível é composto por idéias, por conceitos, que são as matrizes de tudo o que existe no mundo sensível. Com essa simples distinção de mundos Platão conseguiu fornecer uma resposta satisfaria ao problema do conhecimento e da constante transformação das coisas: as coisas mudam, sim, concorda ele, mas isso não é relevante para o conhecimento, pois este abrange as idéias, os conceitos, que pertencem ao âmbito das coisas eternas, que não se transformam. O rio nunca é o mesmo, suas águas não se repetem e nem seu leito se conserva o mesmo, mas, mesmo assim, podemos conhecer o que é um rio, pois nosso conhecimento não se refere a um rio sensível que se transforma a cada instante, se refere ao conceito-rio, à idéia supra-sensível de rio. Essa idéia não muda nunca!

[continua]


marcelo doro

12 de outubro de 2008

Nostalgia dos tempos de carreira solo


Divagava eu sobre os prós e contras da vida de solteira e vice-versa e cheguei à uma conclusão: sem dúvida a vida dividida com alguém é infinitamente mais interessante. Ela pode ser monótona, pode-se brigar, divergir, mas isso depende da cada casal e de como a relação é conduzida.
No tempo que estava “à granel”, inconscientemente buscava uma companhia, alguém para aquecer meus pés, pois mesmo no verão eles ficam geladinhos. Não adianta o solteiro negar, porque no fundo ele quer uma pessoas para compartilhar seus momentos bons e ruins, precisa daquele tipo de companheirismo que os amigos não podem dar, tudo fica mais saboroso quando estamos apaixonados e nos dedicamos à pessoa amada. Mas, não dá para negar que a vida de solteiro possui seus atrativos: os amigos te convidam para todo e qualquer programa, pois tem certeza que tu irás aceitar e ainda, que não tens horário para chegar em casa, muito menos dar satisfações para ao outro (a).
Uma questão interessante: quando saímos acompanhados nos preocupamos se a pessoa está a apreciar o ambiente, se simpatiza com seus amigos/parentes (aquela tia chata) ou acha tudo entediante e quer ir logo para casa dormir. É uma nova forma de viver: é aprender a respeitar o espaço alheio e ceder, sempre ceder em troca da mais sincera felicidade. Aquela felicidade intensa, não uma pseudo-alegria passageira que uma noitada certamente te dará. É um sentimento de proteção, de entrega e confiança: poder acreditar e saber que alguém te espera.
A cerca do lado financeiro, o solteiro sempre gasta com “bobagens”, bebedeiras e investimento próprio. Sempre existe uma parte do enxuto orçamento que dá para adquirir aquele mimo para o ego. O enamorado pensa no conjunto e namoradas que adoram presentear, como eu, tem de se controlar para manter em ordem o tal orçamento e ouvir: “tu sabes que não gosto que gastes com presentes pra mim”. An? Como assim?! Na verdade, ele gosta. Sei que sim.
Este, é um assunto delicado, onde sempre teremos indivíduos com distintas opiniões. Cada um com bons argumentos mas, quando nos encontramos do outro lado da moeda, parece que constantemente temos razão, não é? A estalibidade e o conforto de estar nos braços da pessoa amada, não têm preço, bem como poder sair soltinha por aí também não. Voto no equilíbrio.
Qual o seu argumento?

Leomaris W.

10 de outubro de 2008

Chanson

"Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
A sombra uma paisagem
Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra ao meu favor
Às vezes eu pressinto
E é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussura em meu ouvido
Só o que me interessa
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa".

Labiata, Lenine.

Leomaris W.

9 de outubro de 2008

Muros e grades




Há tempos, penso em escrever sobre o individualismo e por conseqüência, o egoísmo. Mas percebi que também me torno uma pessoa individualista. Quem sabe, isso seja contagioso ou de tanto repetirmos certas atitudes, elas sejam calcificadas com o tempo e se torna perturbador identificar tais erros, quiçá, admiti-los e tentar consertá-los.
Passo por um momento de escolhas, decisões e medos, muitos medos. Mas não é um pouco de narcisismo de minha parte canalizar esses temores ao redor do meu umbigo? Como se apenas eu sofresse ou temesse fazer a escolha errada? Creio que muitos passem por momento nebulosos. Improvável que todos os dias sejam constantemente cinzas, apesar d´eu apreciar a cor, gosto da vida mais colorida.
Eu me pergunto isso toda hora, mas a resposta é sempre o silêncio.
Será que as pessoas se afastam uma das outras por serem individualistas? Por falta de tempo? Ou será por falta de paciência para ouvir o outro? Eu tento me esforçar, juro que tento. Quando gostamos de alguém, é preciso que exista dedicação e respeito, dois ítens imprescindíveis para qualquer relacionamento e por vezes, são deixados de lado, ignorados: ah, deixemos para depois, amanhã nos falamos, não tenho tempo para você.
Não se percebe que os sentimentos têm pressa, não há como programar: fica artificial, ensaiado e certamente não é isso que o coração clama. É com sutileza, bom senso e dedicação que devemos conduzir nossas relações. Quantos esforços em vão! De tanto arquitetar, os muros que nos separam dos outros estão mais altos, afinal, precisamos de proteção. Proteção do quê/de quem? Se trata de excesso de vaidade. Ninguém vai me dizer o que sentir pois demanda muita energia dar atenção ao outro mas, sendo otimista, é impossível ser feliz sozinho.

"Ela começou a crescer, parecia vir do nada. Ficou horas se arrumando e ajeitando suas pétalas... E é linda! Mas também orgulhosa, caprichosa e contraditória".


Leomaris W.

8 de outubro de 2008

Diferenças

Meninas provocam, mulheres seduzem.
Meninas mandam, mulheres comandam.
Meninas protestam, mulheres reivindicam.
Meninas são perigosas, mulheres também.

Mulheres são serenas, meninas agitadas.
Mulheres são constantes, meninas impulsivas.
Mulheres são doces, meninas picantes.
Mulheres são letais, meninas também.

Meninas nem sempre sabem o que querem, mulheres sim.
Meninas não conhecem limites, mulheres sim.
Meninas são complicadas, mulheres também.

Mulheres têm planos, meninas medos.
Mulheres têm afinco, meninas disposição.
Mulheres são mandonas, meninas também.

Meninas suscitam paixão, mulheres amor.
Meninas são alegres, mulheres descontraídas.
Meninas são livres, mulheres independentes.
Meninas nos fazem tremer, mulheres também.

Mulheres são livros, meninas são filmes.
Mulheres são romance, meninas aventura.
Mulheres são tradicionais, meninas da moda.
Mulheres são irresistíveis, meninas também.

Há meninas que muito cedo se tornam mulheres;
Há meninas que nunca se tornam mulheres;
E há mulheres que nunca deixam de ser, também, meninas.

[marcelo doro]

30 de setembro de 2008

O ovo e a galinha

Quem veio antes, o ovo ou a galinha? Este é, talvez, o mais velho paradoxo levantado pela “inteligência” humana. Se alguém chegou a pender o sono pensando na solução não se sabe, mas que era intrigante era. Hoje sabemos a resposta: o ovo veio antes. É que, segundo as teorias da biologia evolucionista, a galinha descende de espécies mais primitivas de vida réptil que, muito antes dela, já botavam ovos. Assim, devido a algumas pequenas e sucessivas mutações genéticas, acabou saindo de dentro de um ovo de dinossauro a primeira galinha. Ou quase isso, pois é de se supor que a galinha primitiva não era tão moderna quanto as que conhecemos. (Sei o que você está pensando: tivemos, sim, muita sorte de a galinha não descender diretamente do grande Tiranossauro Rex!).

Tudo estaria bem se essa resposta de fato resolvesse o paradoxo. Acontece que ela não faz isso. Essa resposta apenas troca o problema de lugar. Trata-se, agora, de saber se foi o dinossauro ou o ovo que apareceu primeiro. Claro que a ciência pode resolver mais esse impasse, mas não quero prosseguir por este caminho. É um caminho tortuoso demais, assim como são tortuosos todos os caminhos da ciência em busca da verdade. Sobre isso é que quero falar. Desconfio que toda essa complexidade seja, no fim das contas, o grande obstáculo para a aceitação da ciência. A ciência é complicada demais.

Não se deve a isso, será, a ainda elevada aceitação de Deus por parte das pessoas? Deus é um conceito simples, basta acreditar. E para quem acredita, assim como um graça, todas as respostas são aplainadas. A crença simplifica o mundo. Pergunte a um crente sobre o paradoxo do ovo e da galinha e ele responderá: Deus criou a galinha e a dotou da faculdade de por ovos; logo, primeiro veio a galinha e depois o ovo. Fácil assim.

As respostas da ciência são, geralmente, difíceis de entender. Suas verdades são complexas. E as pessoas não querem verdades complexas. Porque as pessoas esperam apenas duas coisas da verdade: primeiro, que esteja disponível e, depois, que seja simples.


* * *

Também tem uma resposta lógica: se o ovo em questão no paradoxo for um ovo de galinha, então, necessariamente a galinha veio antes. Porque não é possível existir um ovo “de” galinha sem que primeiro exista “a” galinha. Mas isso também é um tanto complicado...



marcelo doro

21 de setembro de 2008

Nalgum lugar

"Nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio: no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto.

Teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra, embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar. Me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre (tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa. Ou se quiseres me ver fechado, eu e minha vida nos fecharemos belamente, de repente. Assim como o coração desta flor imagina, a neve cuidadosamente descendo em toda a parte. Nada que eu possa perceber neste universo iguala o poder de tua intensa fragilidade: cuja textura compele-me com a cor de seus continentes, restituindo a morte e o sempre cada vez que respiras. Não sei dizer o que há em ti que fecha e abre, só uma parte de mim compreende que a luz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas.

Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas".

E. E. Cummings.

Leomaris W.

17 de setembro de 2008

Eco de sentimentos




É uma ilusão achar que viver é indolor. Sempre sofremos por alguma coisa, pois não existe plenitude. A solidão bate à minha porta avisando-me que passaremos algumas temporadas juntas, e não adianta eu falar que ela não é bem vinda, pois de alguma forma, ela aloja-se num cantinho escuro e fica à espreita de um momento de sóbria embriaguez para tomar conta do que antes era felicidade.
Então, eu digo: bem vinda! E ouço sua respiração próxima, como se ela fosse outra pessoa, alguém que eu quisesse muito ter por perto, ao lado, dentro.
Penso: ela é o vento que me abraça, me provoca e me envolve com o acariciar de seu sopro. Seu amor é causa e efeito, completa meu coração. É ele quem me inspira, me deixa forte e as vezes, fraca, sensível e docemente deprimida. Impossível olhar o céu e não ver o brilho dos teus olhos e isso me faz bem. Não quero te decifrar. Mantenha o seu silêncio e guarde as suas palavras. Eu me contento em sentir a sua boca próxima da minha e é provável que eu nunca vá saber, pois tu nunca vais mostrar.
De todas as minhas incertezas e angústias, resta algo concreto: tu preenches o meu mundo, embora em alguns momentos, eu não me sinta conectada a ti... mas em outros tenho a certeza de nossa bela sintonia. Eu temo se, por ventura, um dia não eu consiga ser paciente, compreensiva ou uma boa ouvinte de palavras não ditas. Minhas justificativas nem sempre levam a uma solução, mas elas são plenas de boas intenções. Gosto da minha vida tranqüila e do silêncio, mas tu és a tempestade que eu preciso.



Leomaris W.

16 de setembro de 2008

Apocalipse (LHC)

Os estudiosos protestam, mas, no vocabulário popular, Apocalipse é sinônimo de “fim do mundo”. É comumente apresentado como a luta final de Deus contra os ímpios. Evidentemente, trata-se de uma profecia antiga, do tempo em que não existia a ciência tal como a conhecemos e as explicações e especulações mundanas eram sustentadas em bases místicas.

Ironicamente, hoje é a própria ciência que motiva especulações acerca de uma possível catástrofe planetária. Os experimentos com o acelerador de partículas Large Hedron Colider (Grande Colisor de Hádrons, LHC na sigla em inglês) vem causando grande alvoroço, vista a imprecisão acerca de seus resultados. Eu não entendo muito bem como as coisas funcionam nesse âmbito – o âmbito do infinitamente pequeno – e, ao que parece, os cientistas que comandam o empreendimento, apesar de saberem muito mais do que eu, também não sabem o suficiente. De fato, esperam que a realização do experimento com o LHC lhes revele algo de significativo. Ou seja, eles esperam que o experimento revele a natureza daquilo que estão ingenuamente manipulando. Essa ignorância de base que ronda o empreendimento tem motivado alguns medos. E não são um medos absolutamente descabidos.

Os mais pessimistas, ou, em outras palavras, os mais temerosos acreditam que o LCH pode criar um buraco negro com força suficiente para tragar toda a massa do nosso adorável e mal cuidado planeta. Os responsáveis pelo projeto despistam dizendo que a chance de acontecer uma tragédia nessas dimensões e muito, muito pequena. A probabilidade seria de uma em 50 milhões. Convenhamos, é difícil de acontecer. Opa!, essa não é também probabilidade de alguém acertar os números da loteria? Sim, acredite, a probabilidade de o mundo acabar em um experimento científico é a mesma que você acertar os números da loteria. E não fique aliviado por nunca ter ganho na loteria. Saiba que muita gente já ganhou. É difícil, mas acontece. (Eu fico pensando: será que as pessoas que já tiveram a estrondosa sorte de ganhar na loteria, sentem-se mais preocupadas, agora?).

No mais, tenho um pé atrás com esses cientistas. Eles são bons no que fazem. Sim, são muito bons. Mas, que coisa, nem os Hackers eles conseguem manter sob controle...





O pior de tudo, se o mundo nosso acabar, é que não vai sobrar ninguém para filosofar a respeito.


[marcelo doro]

9 de setembro de 2008

Deixando o Pago

"Alcei a perna no pingo, E saí sem rumo certo
Olhei o pampa deserto, E o céu fincado no chão,
Troquei as rédeas de mão, Mudei o pala de braço,
E vi a lua no espaço, Clareando todo o rincão.

E a trotezito no mais, Fui aumentando a distância,
Deixar o rancho da infância, Coberto pela neblina,
Nunca pensei que minha sina, Fosse andar longe do pago,
E trago na boca o amargo, Dum doce beijo de china.

Sempre gostei da morena, É a minha cor predileta,
Da carreira em cancha reta, Dum truco numa carona,
Dum churrasco de mamona, Na sombra do arvoredo,
Onde se oculta o segredo, Num teclado de cordeona.

Cruzo a última cancela, Do campo pro corredor,
E sinto um perfume de flor, Que brotou na primavera.
À noite, linda que era, Banhada pelo luar,
Tive ganas de chorar, Ao ver meu rancho tapera.

Como é linda a liberdade, Sobre o lombo do cavalo,
E ouvir o canto do galo, Anunciando a madrugada,
Dormir na beira da estrada, Num sono largo e sereno,
E ver que o mundo é pequeno, E que a vida não vale nada.

O pingo tranqueava largo, Na direção de um bolicho,
Onde se ouvia o cochicho, De uma cordeona acordada,
Era linda a madrugada, A estrela dÂ’alva saía,
No rastro das três marias, Na volta grande da estrada.

Era um baile, um casamento, Quem sabe algum batizado,
Eu não era convidado, Mas tava ali de cruzada,
Bolicho em beira de estrada, Sempre tem um índio vago,
Cachaça pra tomar um trago, Carpeta pra uma carteada.

Falam muito no destino, Até nem sei se acredito,
Eu fui criado solito, Mas sempre bem prevenido,
Índio do queixo torcido, Que se amansou na experiência,
Eu vou voltar pra querência, Lugar onde fui parido."

francoa

8 de setembro de 2008

A banalização da cultura


Há algum tempo, eu passava em frente à tv, quando uma canção chamou minha atenção. Tratava-se da Srta. Spektor: cantora e pianista russa radicada em New York. Para minha surpresa era minha música favorita tocando na novala das 9 (!). A partir disso, lembrei de outro episódio. Foi em 1995 (eu era uma fedelha), na Malhação que ouvi e vi pela primeira vez a Srta. Morissette. Amor à primeira vista, pois identifiquei-me com aquela guria cabeluda, grunge e que soltava os agudos mais agudos qu´eu jamais ouvira igual.
São duas situações semelhantes, mas que causaram sensações diferentes e fizeram-me refletir sobre um assunto: a (boa) cultura é para todos? Eu sempre tive uma opinião crítica a respeito, porque considero que nem todos que ouvem a Regina tocando como trilha sonora de casal de novela sabem da sua potencialidade e principalmente, a grande artista que é. No máximo, acham a canção "bonitinha" e colocam-na no seu mp3 para cantarolar o refrão depois.
Quando Alanis veio ao Brasil pela primeira vez, era pouco conhecida. Depois, retornou e apareceu novamente numa novela. Eis a questão! Será que para o artista vir para cá ele precisa necessariamente aparecer num veículo de comunicação como a Globo? Assim o povão terá conhecimento, logo, o artista terá "público" garantido em seu provável show.
Posso estar enganada a respeito ou no fundo, existe uma parcela de verdade neste argumento. De fato, penso que grande parte das pessoas não entendem a arte e aí entra uma outra questão peculiar que não abordarei agora mas é também de suma importância. Elas não compreendem porque os meios de comunicação e a mídia enfiam goela a baixo certos tipos de gostos musicais, cinematográficos e entreternimentos em geral. Tudo muito fácil de digerir, é verdade. Assim, os clássicos, as novidades interessantes, caem no esquecimento ou no não-conhecimento (?).
Não posso afirmar que, a Regina Spektor tornanado-se single na novela poderá vir ao Brasil, como tantos outros artistas que seguiram este rumo. Se para ela vir, a massa terá de escutá-la, que assim seja. Eu ficaria deveras feliz.

Leomaris W.

4 de setembro de 2008

La petite histoire

Dedicado.

Estavam todos reunidos num grande salão, comemorando algo sem importância, falando frivolidades de forma efusiva com o tom de voz nas alturas e propondo um brinde. Neste momento, ele entrou: sério e elegante. Era como um ímã, atraindo os olhos dela entre as menores aberturas na multidão. Sentou-se não muito próximo e fingiu que não a via. Ele sabia realmente como tirá-la do sério. Uma sensação incontrolável: quando ela percebeu, o rubor já tomara conta de sua face. Não havia como escapar, hoje seria o dia decisivo. Ambos sabiam que precisavam trocar algumas verdadeiras palavras e isso os deixava aflitos.
A refeição é finita. Cada um pegou sua taça de clicquot e foram para direções opostas. Ficaram não muito longe um do outro, somente um véu dividia parte da pequena sala que os separava. Cada olhar era como uma flechada e os suspiros dela eram inevitáveis. Foi então num ímpeto que ela avançou e foi até ele.
- Precisamos conversar – disse. Ele fez sinal positivo com a cabeça e seguiram em silêncio para o jardim. O vento batia nos cabelos dela, que estavam presos com um lenço. Mesmo assim, pela proximidade, o perfume suave de camomila o deixou sensível, pois, sabia que os aromas dela o faziam estremecer. Com o coração disparado, boca seca, mãos trêmulas, ele ficou mais próximo, pegou seu delicado rosto entre as mãos e começou a beijá-la, o gosto era tão bom quanto o cheiro.
- Se eu beijá-la novamente, não conseguirei mais parar – murmurou com a voz rouca.
Ela prendeu a respiração quando a mão dele envolveu seu seio. Ficaram assim por um longo tempo. Havia desejo no ar. Aquilo era perigoso, afinal, estavam no jardim, haviam muitos conhecidos na festa e esta atitude poderia comprometer a integridade de ambos.
Movidos por um misto de loucura e paixão deram mais um beijo, desta vez por outro ângulo. As mãos dele desceram pelas costas dela e foram até suas nádegas, tocando-as audaciosamente enquanto o beijo ficava cada vez mais quente. De frente um para o outro, trocavam chamas através dos olhos. Ela mordeu os lábios, denunciando seu estado de êxtase e frêmito e ele a pegou no colo. Pareciam duas metades que se complementavam. As pernas dela enlaçaram-se em sua cintura e quando perceberam, estavam fazendo amor...de forma intensa e voraz. A boca dele cobriu o seio dela, sugando-a, envolvendo-a, levando-a ao delírio. Seus corpos tornaram-se uma interminável ondulação de prazer. Ele sussurrava: - Minha bacante, minha valquíria!
Ela parecia suspensa no ar, mas ele a puxava contra si tornando o ritmo mais intenso e provocativo, um convite para visitar novamente o paraíso. Neste instante, ela já havia deixado o lenço cair, cabelos esvoaçantes , lábios corados, respiração forte e frenética condenava que o ápice logo chegaria. Juntos, foram às estrelas. Delicadamente, ele ajudou-a descer do seu colo e no mesmo momento, sem jeito, ela disse: - Preciso partir. Ajeitou a saia e retirou-se. Ele não conseguia balbuciar nenhuma palavra, o que mais queria era dar um abraço nela. Baixou o olhar e avistou um lenço de seda no chão. Já com uma sensação de nostalgia o pegou e lá estava o perfume dela: era como se pudesse reviver aqueles instantes tão intensos, que aconteceram há poucos minutos mas sabidamente não sairiam mais da memória. Momentos indeléveis e únicos.
Ele voltou para o salão. Avistou- a sentada com um grupo de amigos em comum. O sorriso de ambos era notado por todos, embora nenhum comentário fosse realizado. Nem precisava. Ele percebeu que ela era sua e sempre seria, mesmo estando longe, ela era a metade do todo.

Leomaris W.

3 de setembro de 2008

O brilho das estações



Deveria haver uma época para nos deprimirmos. Deveríamos poder programar nossos corações para os sentimentos: agora é hora de ficar feliz, ter euforia, exalar desejo. Não, agora é o momento de ficarmos em paz, meditativos. Gostaria de encomendar sensações, assim tudo seria mais simples. Ao que parece, o que mais existe são momentos inadequados para sentir. É preciso serenidade para manter os sentimentos sob controle, mantermos o controle, sermos auto-suficientes e capazes de ter a frieza necessária para espantar os devaneios e os medos.
A primavera dá seus precoces sinais: tudo ao redor está florido e calmo, exceto meu coração. É uma estação amena, não possui nem o calor abafado nem o frio que congela. Dois pólos distintos buscando o mesmo e ainda é inverno. Mas que confusão! Nós e o clima. Será que em algum momento cederemos, assim como uma estação cede à outra? Ou seremos autônomos o suficiente para mantermos as rédeas do suave ballet das emoções?
Nada respondo. Nada responde o desespero.
A beleza das estações e dos sentimentos devem ser aproveitados enquanto ainda há flores, enquanto ainda existem suspiros e principalmente, por quem suspirar. Tudo é efêmero: humores, sorrisos, prazeres. Não há como ser previsível. A previsibilidade enjoa, é chata.
Sincera mente, prefiro a tempestade que a calmaria de uma noite de verão.



*Imagem: A primavera, Claude Monet.


Leomaris W.

Marcas do tempo - XI Parte

Quando tudo parecia perdido, sempre surgia um homem com força, era uma força incomum, não levantava pesos, ou movia montanhas, mas fazia que todos esforçassem ao máximo, nem que fosse pela ultima gota de suor. Era um sorriso, uma palavra, ou até mesmo um breve olhar, e todos estavam carregados, era munição nova. E isto era realmente explosivo, facinante, como um simples gesto, por mais involuntário que fosse, poderia motivar tanto, um simples homem, que cansado, resolvera, por assim dizer, se suicidar, empunhando sua arma e avançando. Um simples gesto, que fazia um pelotão inteiro avançar, encurralando o inimigo.

Hoje se perguntam quem realmente era o inimigo, nossos inimigos não eram os homens que atiravam em nós, que morriam conosco, que matavam conosco, que se suicidavam, nossos verdadeiro inimigo era nossos ideais, palavras que nos motivavam, gestos que nos comandavam, e aqueles que por nós morreram.

Estes foram nossos maiores inimigos, hoje o nosso desafio é manter-se vivo, com a mente sã, e esta é a maior de todas as batalhas, que nem todos conseguiram vencer, é uma luta árdua, travada todos os dias. Ela nos acorda de noite, não nos deixa dormir, assim como nos campos, ela quer nos vencer.

As crianças gostavam de ouvir suas histórias, divertiam-nas ver o tio todo empolgado, falando baixinho, com uma autoridade de quem foi um grande general, para eles não fazia a menor diferença entre um grande capitão, ou um simples enfermeiro, ele esteve lá, tinha uma arma, e fez a guerra. Por causa dele, hoje temos desfile no dia da Independência, balões, fogos, e algodão doce.

francoa

1 de setembro de 2008

Marcas do tempo - X parte

A rua corria ao longe, encostado em seu portão passava o tempo olhando as garotas sorridentes que caminhavam dentro de seus vestidos rendados. Cigarro no canto da boca e uma garrafa de refrigerante na mão esquerda. Permanecia nas tardes de domingo apenas perdendo o tempo entre um cigarro e outro, mesmo não gostando de fumar, precisava, e se não fumasse estaria deslocado de seu mundo.

O primeiro maço foi comprado com o troco de um cliente, apenas trocara o pneu furado e o bom senhor de terno deu-lhe alguns centavos. Isso bastava para iniciar seu dilema, fumar ou não fumar, eis a questão! Ser ou não ser o seu próprio assassino, estar ou não estar na modernidade... Eram questões difíceis de serem respondidas por um jovem de 17 anos. No rádio os comerciais anunciavam o sucesso, mas sua cabeça estava muito mais livre, então, apenas mantinha a imagem.

- Sou muito mais que isso! Bradava aos ventos, gritos silenciosos que não podiam ser ouvidos.

Não gostava dos jovens de seu tempo, eram tão “no sense”, sem sentido de vida, esperando um mundo novo, cheio de oportunidades, todos sonhando em morar numa grande metrópole, mas sem um mínimo de esforço para alcançar os sonhos.

Todos fugiam das escolas, ela não lhes ensinava nada de útil. Eram apenas locais que mantinham pessoas empregadas, nada de mais, sonhos se formavam na velocidade da informação, propagandas de refrigerantes em grandes cartazes, musicais em pequenos teatros, lanchonetes. Tudo era tão vago.... mas era o seu tempo e nada podia contra ele, tinha que adaptar-se, mas como? Sem perdera sua identidade e sem esquecer seus próprios sonhos?

francoa

Marcas do tempo - nona parte

Eram tempos difíceis para manter-se sóbrio. O mundo em guerra, pessoas odiando-se, jovens matando-se, o mudo ficando louco, apesar de uns loucos gritarem por paz.

Assistir televisão era uma tortura pois as notícias nunca eram boas, somente bombas e mais violência.

Triste, sentado no sofá, chorava pequenas lágrimas pelo mundo que ajudara a criar, sabia que fizera parte daquilo tudo, o que tinha se transformado, toda aquela ideologia de um mundo livre de tiranos, em que as pessoas teriam a liberdade para escolher seu destino, tudo transformando em mais ódio, mais violência. Novos inimigos (estes muito poderosos) e intolerância.

Participou da campanha pelo mundo livre do racismo, que deu direito a negros de serem felizes e livres, a liberdade sempre estava em voga, antes os negros não tinham direitos, nada podiam contra quem os humilha, agora estavam armados, antes tinham apenas as armas, os pensamentos e os ideais. Hoje tinham as munições, balas de chumbo, tão poderosas quanto uma idéia.

Queriam um mundo livre, então criavam muros que separavam os ideais opostos. Era estranhamente irônico: pessoas que antes defendiam a total liberdade, hoje pregando a arbitrariedade.

E ele sentado no velho sofá, aquecendo-se ao lado do fogão à lenha, cheirando fumaça de madeira verde. Sentia um remorso por ter ajudado a construir este mundo. Não disparou um único tiro, mas falaram à multidões sobre suas idéias e estas foram as piores armas usadas.

Hoje, nada podia contra os homens que ajudara a tomar o poder, era apenas um velho solitário que se sentia inútil, a cada notícia retratando a morte de um jovem, pedia para morrer em seu lugar.

– O que me tornei? Gritava consigo mesmo todos os dias, não entendia como idéias tão boas poderiam matar tantas pessoas inocentes.

francoa

Marcas do tempo - oitava parte

Como é bom sentir o vento em suas asas, uma luta árdua para ver quem é o mais forte: o vento ou suas asas. – Mais rápido!!!! Mais, mais!!! Sentia como se fosse ordenado por seu brinquedo, a velha pandorga puxada contra o vento que insistia em não levantá-la. Nunca aprendera como empinar pipa, então corria contra o vento obrigando-o a voar, aos poucos ia cansando, perdendo as forças, mas sentia-se cada vez mais forte, nada podia contra eles.

Quando JJ chegou, ele já estava sentado junto ao meio fio que separava a empoeirada estrada e o pequeno passeio. Cansado, sujo, mas com um sorriso que cativava qualquer um, era uma criança feliz, apesar de todas as dificuldades. Nunca faltou comida em sua mesa, o mesmo não pode se dizer de suas roupas, como a velha calça rasgada nos joelhos. – Mas foi um tombo incrível, mãe! E não foi culpa minha, o JJ me derrubou, eu juro! Disse à ela quando chegou em casa com os joelhos pingando sangue, a dor era insuportável, mas mantinha o lindo sorriso no rosto.

- Como foi?

- Cara, foi muito bom, ela voou muito alto! Quase não conseguia segurar o fio, tinha vida própria.

- Duvido!

- Por quê? Não podes?

- A tua não voa, e tu não sabes empinar.

- Ahhh! Cara... tu não sabe nada, eu mudei o ângulo de incidência, e ficou muito bom, quer ver?

- Quero!

- Está bem, amanhã te mostro, hoje estou cansado.

- Duvido, mas deixa pra lá.

Eram amigos fieis, nunca brigavam, por mais viris que fossem. JJ era mais velho e também mais esperto, nunca perdeu uma aposta, só apostava quando sabia que podia ganhar, por menor que fosse o prêmio: uma bala ou uma pedra, mas nunca perdera.

Suas casas eram próximas. De manhã, nem bem acordavam, já estavam juntos em frente à casa de dona Lucinha, uma simpática senhora que sempre preparava o café da manhã para os meninos. Saíam de casa correndo para ver quem chegava primeiro na casa da vó Lu (era como a chamavam). Ela sempre querida, recebia os dois com um forte abraço. – Meus meninos! Como vocês crescem rápido! Exclamava todos os dias. Entrava, sentavam em frente ao fogão à lenha e impacientes esperavam o pedaço de bolo com chá que era preparado na hora, o bolo tinha que ser de laranja, eles adoravam.

Depois, cada um lavava seu prato e sua xícaras colocavam-nas no escorredor, agradeciam e saiam pela longa rua correndo, apostando quem era o mais forte ou o mais rápido. Nunca chegaram à conclusão, mesmo JJ perdendo quase todas as corridas. Consideravam-se imbatíveis.

– Eu com a minha força e você, JJ com a sua inteligência, somos imbatíveis.

francoa

28 de agosto de 2008

Marcas do tempo - sétima parte

Numa tarde ensolarada de outono, quando as folhas teimavam em manter-se em seus galhos, cachorros corriam brincando na grama verde de seu pátio, crianças pulavam corda cantado canções embaladas pelos ritmos das passadas, garotos ficavam parados nos muros olhando garotas que fingiam não se importar com os olhos que perseguiam seus corpos.

Enquanto ficava conversando com sua esposa sobre planos para o futuro, falando de crianças brincando de roda em seu pátio, filhos, netos e outras coisas. Em instantes lembrava que quase não tivesse a chance de ter um tempo a perder. Poderia nunca ter voltado do campo, foste pior que imaginava, mas não foste tão duro quanto a nova vida que levava. Ainda sentia-se torturado, acordava de noite aos prantos, sempre tivera um ombro amigo para acolhe-lo, e ela cada vez que o olhava, sentia a graça por estar de volta.

Talvez nunca teriam netos, ou até mesmo filhos, mas esta era uma experiência que queria ter, mesmo que tivesse medo, queria ter, pensava em deixar seu nome para novas gerações, não fizera nada que merecesse uma medalha, não matara, apenas serviu ao seu país, salvaste vidas, mas vidas salvas não ganham prêmios, bravuras sim. E ele não foste bravo, não que lhe faltaste coragem, muito pelo contrário, era um dos mais sábios e bravos do campo, mas por ser enfermeiro, não o deixavam se expor.

A cada corpo que caía em combate, muitos mais cairiam se ele não estivesse lá. Nunca deixavam que se arrisca-se precisavam do “médico”, nem que fosse para apenas colocar um pouco de morfina em suas cicatrizes. Por mais que nada adiantasse fazer apenas acalmava a dor.

Tantos rostos sofrendo e hoje aqui nesta cadeira olhando as crianças brincando, fica aquela sensação de que nada valeu a pena, - Pelo o que lutamos? E seus filhos? Nunca encontrou respostas se foram justas as quedas, se todo o sangue derramado limparia a vergonha que hoje sente. 


francoa

27 de agosto de 2008

Marcas do tempo - sexta parte

Enfim amanheceu não gostava das noites de verão, pois não conseguia dormir, suas feridas o incomodavam quando estava quente, coçavam tanto que chegavam a sangrar, mas não sentia dor. Sentia um certo prazer em sofrer, talvez o que vivera.

Quando o sol entrou pela sua janela dando-lhe bom dia e iniciando um novo turno, ele levantou-se disposto, mas naquela manha não foi até a feira, decidira mudar toda a sua história não queria mais passar em frente ao seu retrato ou olhar sua árvore crescendo, decidira abandonar Giulia, mesmo que soubesse que ela não o deixaria ir sem explicação, não queria mais ser responsável por nada de vivo, nem histórias mortas.

Juntou velhas cartas em seu armário e queimou-as segurando em suas mãos até que agüentasse o calor, queria verdadeiramente sentir dor, vivera feliz por muito tempo e isto o incomodava ter uma boa casa, uma linda mulher e um trabalho, estava farto de tudo, não queria saber se os lucros dariam para comprar um novo fogão, ou se a geladeira estava velha, não queria pintar novamente a casa, e sua cama era grande demais.

Escadas em caracol, papel de parede florido, piso encerrado, tudo acabara quando o primeiro facho de luz o despertou, era o início de uma vida nova, deixaria para traz tudo o que construíra, sua casa, sua família, sua esposa.

Sentira um pequeno remorso, mas estava decidido, não queria ser mais um peso para sua esposa, mesmo sabendo que ela o amava e dedicara sua vida ao seu lado.

Então, desceu até a cozinha olhando para cada quadro da parede como se estivesse se despedindo, e estava, percorreu o pequeno corredor que o separava da sala, sentou-se no sofá e olhou sua lareira, ainda com cinzas, que não limpara desde o ultimo frio.

Abriu a porta da cozinha e juntou um banco a mesa, ficou imóvel por alguns minutos, sua esposa preparara a refeição matinal que ele mais gostava como se pressentisse que algo de terrível estivesse por acontecer, olhou por alguns segundos o prato com ovos, bacon e panquecas, então tradicionalmente pediu um pouco de mel.

Ela sabia que ele adorava panquecas com mel, mas nunca colocara na mesa. Não naquela manha.

- Está ao seu lado. Respondeu afavelmente sua esposa, mas ele não respondeu, derramou um pouco sobre as panquecas, pegou o garfo e comeu sem fazer barulho, vagarosamente mastigava cada pedacinho, não tomou suco, pediu água, tomou dois copos em pequenos goles entre cada garfada até limpar todo o prato, primeiro as panquecas, depois os ovos e por fim as duas fatias de bacon torrados.

francoa

Marcas do tempo - quinta parte

Quarta-feira foi uma noite muito fria, a névoa que se formava na rua criava uma neblina que ao encontro da luz brilhava como se estivesse caindo purpurinas nas ruas. Elas estavam desertas, não era tarde, era passada da meia noite, mas o frio afugentou os seus tradicionais habitantes, aquele silencio o assustava mais que os gritos, quando estavam gritando, sabia da onde vinham os temores, mas o silencio... Este era o maior de seus medos.
As noites não eram tranqüilas quando silenciosas, eram assustadoras, como se algo de terrível estivesse para acontecer, ao menor dos ruídos, um estrondo, um grito, uma criança chorando, um velho resmungando, tudo podia acontecer, mas nada de bom acontecia.

Naquela noite bateram em sua porta, seus temores nunca foram tão grandes. – Quem perturba meu descanso? Que descanso... Ele não descansava no silencio, ficava cada vez mais assustado, bateram de novo e de novo, então ele levantou-se e foi até a porta.

Pelas frestas viu o corpo de uma jovem, “pode ser um assalto! ’’, e o que vão levar? Ele mandou que fosse embora, mas ela não foi, ficava imóvel em frente à porta esperando como se soubesse que ele ia abrir, mas não abria, gritava, implorava que fosse embora e não o perturbasse mais. Nada adiantava, ela continuava a bater cada vez mais forte.

francoa

22 de agosto de 2008

Marcas do tempo - quarta parte

- Estou sem fome!; pensou quando chegou a cozinha, - Não quero preparar nada complicado para comer; mesmo que quisesse,  seu cardápio não era variado, nem em condimentos, nem em especialidades, normalmente fazia um arroz, com ovo frito e um pedaço de carne com molho de tomate, todos os dias. Nunca faltava carne, a maioria dos alimentos eram ganhos em troca de trabalho, sua aposentadoria não lhe ajudaria em preparar um banquete, e poder comer carne, já era de bom grado.

Todos os dias, ajudava os feirantes a montarem suas barracas no comércio popular, não era um trabalho dos mais fáceis, mas ele precisava, então não reclamava, agradecia o pouco que lhe davam, mesmo se não dessem nada ele faria, apenas para sentir-se útil, e os feirantes o ajudariam com ou sem trabalho, gostavam deve. O conheciam a muito tempo.

Na primeira vez que ele chegou à feira, foi há muito tempo, recém voltara do campo, ainda era jovem, apesar das marcas no corpo e as cicatrizes no rosto não condizerem. Foi num verão muito quente, logo que desceu do ônibus, foi a praça reencontrar a sua amiga, e lá estava ela, no mesmo lugar, grande, forte e bonita, lindas flores cobriam seus galhos, olhas verdes. Ficou por um tempo parado em sua frente olhando-a como se fosse a única coisa que existisse naquele lugar, largou a pesada mochila no chão, caminhou até ela e começou a acariciar seu tronco. Nele ainda havia marcas em formatos de coração que com o tempo fora descascando, hoje não mais permitido fazer.

Ao final da tarde retornava ao comércio para terminar a sua tarefa, depois de desmontar as barracas, recolhia seu por assim dizer salário e voltava para a casa, não sem antes olhar o seu retrato.


francoa

21 de agosto de 2008

Marcas do tempo - terceira parte

Durante os dias, passeava pela sua cidade, viu ela crescer aos poucos, de um pequeno vilarejo com estradas de terra que hoje se transformara em uma cidade, ainda que pequena, muito movimentada, pois era, praticamente a porta de entrada da grande metrópole existia ao lado, o que antes fora uma vila, hoje era uma cidade satélite, onde vivem apenas os bestializados. Estes que não se enquadram no padrão de riqueza da cidade.

Quando criança corria de seu jardim até a praça que ficava a poucas quadras de sua casa, chinelos ralos, uma pequena calça e uma camiseta branca, toda suja com a poeira das carroças que por lá transitavam, era uma criança feliz, passava as tardes olhando as pessoas que caminhavam por lá.

Nela tinha plantado uma muda e cuidara desde pequeno, hoje transformada em árvore, não dava mais que sobra, sonhara em colher seus frutos, mas não era uma árvore frutífera, mesmo assim não sentia-se triste, tinha um legado a ser deixado. Toda a tarde corria até ela com um copo e molhava as pequeninas folhas que nascera, ficava admirando sua beleza e simplicidade, o quão miudinha era, e tamanha força tinha. Passava horas olhando as folhas, cariciando-as.

Quando foi chamado a ajudar, fez de bom grado, mas não antes de se despedir de sua melhor amiga e confidente, já eram bem grandinhos, mas não perderam o carinho que ambos tinham um pelo outro, parecia que ela crescesse esperando a sua volta, ela que tanta sobra deu para seus amantes que se acolheram, galhos como balanços para as crianças e um forte tronco que nasceu para receber declarações eternas de amor, que não duram.

O chamado destruiu seu sonho de rever os amigos que por lá transitavam, mas seu pai voltara.


francoa

Marcas do tempo - segunda parte

Durante a noite a folga entre os vidros da janela vibram provocando um pequeno zumbido que aos seus ouvidos trazem uma pequena canção, é uma melodia que cantava quando criança e hoje serve apenas de lembrança dos seus tempos juvenis

Da pequena cama encostada na janela ele fica observando os transeuntes que perturbam seu sono, sua janela possui apenas sujos vidros que ele consegue limpar por dentro, acho que nunca ousou abrir-la, talvez por medo que a mesma de tão velha, pudesse desmanchar e não teria condições de consertá-la, “melhor deixar assim”; pensava.

Os gritos na rua não o incomodavam mais, os seus próprios também não, era o que sobrou de seu passado, seus medos ficavam acomodados ao seu lado, junto com os remédios que o mantinham vivo, até pensou em parar com eles, mas ainda tinha medo, depois de tudo o que viveu a morte inda era o pior dos pesadelos.

A noite, quando acordava sufocado pela tosse que insistia em não o abandonar, pedia que Deus acabasse com a sua agonia, sentia tanta dor que jurava estar morrendo. Logo ele, que inúmeras pessoas salvou durante as batalhas, hoje perdia sua luta consigo mesmo.


francoa

18 de agosto de 2008

Marcas do tempo - primeira parte

Um velho de barbas longas atravessa vagarosamente a rua para chegar em frente a uma loja de retratos antigos, ele para em frente a embaçada vitrine e fica admirando seu retrato de quando era jovem.

Todos os dias ele repete a mesma procissão, sai de sua casa quase caindo aos pedaços, somente para, por alguns instantes, relembrar de seu passada.

É um retrato antigo com uma moldura de madeira pintada em cores verde e dourado, entalhada a mão. Este senhor que outrora fosse moço, vestido em seu pesado uniforme verde de campanha, capacete, colete e fuzil, estes não os melhores do mundo, mas foram dele. Sua arma não era a mais precisa, seu colete era remendado, fora de outros antes dele o aposentar, mas o elmo, este sim, teve apenas um dono. Ele fica imóvel na frente de seu retrato, como se reverenciasse aquele jovem, quem passa todos os dias naquela rua, com certeza já viu esta cena. Hoje aparentando o dobro de sua idade, e com a saúde abalada mais pelos remédios ausentes do que a sua própria doença o poderia abalá-lo, não resta mais nada a fazer a não ser reverenciar ao seu passado. Este não fora um sargento, tenente ou cabo... foste apenas um soldado, mas com uma tarefa muito especial, fora enfermeiro de guerra.

Quando se alistou, não queria defender a sua pátria, não queria matar nenhum inimigo da liberdade, queria apenas ajudar aos que necessitavam

Continua amanhã....


francoa

15 de agosto de 2008

Tempos Distantes pat. 2

Há um bom tempo tenho pensado nisso...

Com o passar dos anos, e por conseqüência... os amores

Sinto-me traindo a mim mesmo

Quando digo “eu te amo!”, fico com a mesma pergunta

“Quem eu realmente amei?”

Gosto de ser sincero com as pessoas, mas as vezes

As emoções falam mais alto

E depois fica esta sensação estranha

 

Será que estou sendo verdadeiro?

A quem quero enganar?

É ao mesmo tempo engraçado

Não conheço ninguém que se importe com isso

Ou não expressam, tem medo de perder seu escudo

Aqueles que perdem, ficam frágeis.. até demais

Se assustam e fogem

 

Então.. está na hora de fugir

 

francoa

Tempos distantes

"esta postagem não é uma crônica, ou uma história, é um dos meus velhos e bons desabafos, então, não procurem concordâncias entre os textos... apenas leiam."


É estranho dizer isso, pois não sei exatamente o que me falta

Mas sinto em ti uma falta, talvez nem seja realmente uma falta

Pois uma falta, é considerado também um erro

E não errei contigo, talvez estivéssemos em tempos diferentes

Mas não seria errar, não acho que erramos, apenas... nos precipitamos

Eu principalmente

 

Demorei, e aos poucos entendi, que não temos o domínio do nosso tempo

Não sabemos o momento certo das coisas

Qual seria a melhor hora durante a festa, para chegar na garota e dizer “Oi!”

Ou quanto tempo deveríamos ter tido para dizer “Eu te amo!”

Na verdade nunca saberemos

E qual a melhor hora para dizer  “Quero um tempo!”

E qual a melhor resposta “Você me ama?”

 

Não... não temos respostas, apenas novas perguntas

Deveria ter ligado ontem, deveria ter escrito

Mas você queria estar sozinha, como saberia

É impossível prever o que pode acontecer

“O que as cartas dizem?”

 

Elas dizem que temos o nosso tempo

Talvez não hoje

Mas um dia

Com certeza

Teremos


francoa

14 de agosto de 2008

Intrigante

Encontrada em vários estabelecimentos:

"Só Vendo, Vendo
Não Vendo, Não Vendo!"

francoa

13 de agosto de 2008

Quando o carnaval chegar

Quarta dia do sofá.. uma música pra relaxar...


"Quem me vê sempre parado, distante

Garante que eu não sei sambar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando
E não posso falar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo as pernas de louça da moça que passa e não posso pegar
Há quanto tempo desejo seu beijo
Molhado de maracujá
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando
Que eu vou aturar
E quem me vê apanhando da vida duvida que eu vá revidar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo a barra do dia surgindo, pedindo pra gente cantar
Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem me dera gritar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar"

Chico B. Holanda

francoa


A Senhorita Catarina

Em uma pacata e pequena cidade do interior vivia uma belíssima burguesa de aproximadamente vinte e dois anos, gorduchinha e roliça, carnes as mais viçosas e apetitosas, todas as formas modelares, ainda que um pouco cheias, e que acrescentava a tão fartos encantos presença de espírito, vivacidade, e gosto o mais aguçado por todos os prazeres que lhe proibiam as rigorosas leis da sociendade.

Casada e exemplar dona de casa, há alguns anos decidira arranjar dois ajudantes para seu marido que, sendo velho e feio, a ela não somente desagradava  muito, como também cumpria mal o seu papel.

Talvez, com um pouco mais de desempenho, poderiam acalmar a incansável Catarina - assim se chamava nossa bela burguesa.  Nada mais bem combinado do que os encontros marcados com esses dois amantes: Rafael, jovem militar, ficava normalmente das quatro às cinco horas da tarde, e das cinco e meia às sete chegava

Guilermo, jovem negociante com o rosto mais bonito que o mundo já fez. Eram os únicos em que a sra.  Catarina estava tranqüila: de  manhã,  era preciso estar na loja e, à tarde, também tinha de aparecer por lá algumas vezes, ou então o marido voltava para casa, e deviam falar de seus negócios. 

Por sinal, a Sra. Catarina havia confidenciado a uma de suas amigas que ela gostava muito que os momentos de prazer se sucedessem assim muito próximos um do outro: a chama da imaginação não se apagava, ela assegurava; desse modo, nada mais temo do que passar de um prazer a outro.

Não era difícil retomar a ação, pois a sra. Catarina era uma criatura encantadora que calculava ao máximo todas as sensações do amor; pouquíssimas mulheres tinham tanto conhecimento dos pontos de prazeres do seu próprio corpo como ela própria e, em virtude dos seus talentos, reconhecera que, depois de muito calcular, dois amantes valiam muito mais do que um.

Com respeito à reputação, era quase a mesma coisa, um encobria o outro. Poderiam se equivocar, poderia ser sempre o mesmo a entrar e sair várias vezes durante o dia, mas em relação ao prazer, quanta diferença!

Certo dia a ordem fixada nos encontros veio a se perturbar, e nossos dois amantes, que nunca se tinham visto, conheceram-se de maneira engraçada, conforme relatarei.  Rafael foi o primeiro, mas chegara muito tarde, e como se o diabo tivesse se intrometido no horário, Guilermo, que era o segundo, chegou um pouco mais cedo. Infelizmente, um encontro infalível sucedeu. Nosso jovem militar, cansado do papel de amante, quis, por uns momentos, representar o de conjuge, ao invéx de ir embora após o tórrido romançe, quiz ficar montado em sua “esposa” por algum tempo, deitados como diríamos “de conchinha”. A sra.  Catarina que, nua como a Vênus, e encontrando-se perfeitamente encaixada em seu amante, apresentava, diante da porta do quarto onde se celebravam os mistérios do prazer e do amor.

Tal era a atitude quando Guilhermo, acostumado a entrar sem dificuldade pela janela lateral do porão, chega cantarolando baixinho, entra no seu ninho de prazer e vê por um ângulo o que uma mulher verdadeiramente honesta não deve fazer. O que teria causado grande prazer a muitas pessoas fez com que Guilermo recuasse.

- O que vejo? - exclamou - ... traidora... é isso que me reservas?

Sentía-se o próprio marido traído, mesmo sendo este, apenas um amante.

A sra.  Catarina que, naquele momento, se encontrava numa dessas crises em que uma mulher age infinitamente melhor do que raciocina, resolve mostrar-se audaciosa:

- Que diabo tens tu, - diz ela ao segundo - sem deixar de se entregar ao outro

- Não vejo nisso nada que te cause muito pesar...  não nos perturbes, meu amigo, e contentate com o que te resta; como bem podes notar, há lugar para dois.

Guilermo, não conseguindo deixar de rir do sangue-frio de sua amante, pensou que o mais simples era seguir o conselho dela, não se fez de rogado.

Dizem que os três lucraram com isso...


francoa

11 de agosto de 2008

Um bar

Caminhando numa noite fria de inverno, sem nada de útil para fazer, sigo por ruas antes não percorridas.

Em uma delas encontro um bar aberto, uma luz turva que vem de dentro me convida à entar, não resito ao seu convite, o que de melhor teria para fazer? Poucas mesas ocupadas, e o balcão retangular deserto. Apenas um bar man nele. escolho uma mesa ao fundo, onde nem mais a luz consegue chegar e fico apensas admirando os seres que aqui ambientam.

Um casal na mesa do centro conversa alegremente, parece íntimos, um senhor dorme sobre a mesa ao fundo com um copo de cerveja em uma das mãos, a outra serve de travesseiro para seus sonhos. 

Ao seu lado uma senhora aparentando meia idade, bebe alegremente sozinha, cantarolando uma música antiga que não conheço, mas a melodia soa bem familiar.

Sentado em um dos bancos altos do balcão está um homem de terno cinza, com chapéu bege escuro, seus cotovelos o mantém inclinado sobre o balcão, a sua frente uma garrafa quase vazia de Jack Daniels, e um copo com pouco gelo.

Ele parece estar conversando com seu copo enquanto fuma, com o dedo indicador da mão direita faze o gelo rodar dentro do copo, olhando-o fixamente, dá uma longa tragada, retira o cigarro da boca e toma um longo gole, então solta a fumaça que preenche os seus pulmões, coloca novamente o cigarro no canto da boca, pega a garrafa com a mão esquerda, tira a tampa e despeja o resto do conteúdo no copo, e larga novamente a garrafa, toma o whisky, em três longos goles, parece que está de saída, com pressa de terminar a bebida...

Então ele abre o paletó e retira do bolso interno um envelope, abre-o e retira uma carta dobrada em três partes, fixa os olhos sobre ela, fico com a impressão que aquela carta já tivesse sido lida antes.

Ele coloca-a novamente no envelope, retira do bolso direito da calsa um isqueiro prateado, acende sua chama, admira-a por uns segundos e então coloca fogo na cartas.

Segurando com a mão esquerda a carta e com o isqueiro na direita ele espera até que a chama se complete, deposita a carta e seu envelope sobre um cinzeiro branco manchado e fica apenas olhando ambos queimando, enquanto desfruta de suas ultimas gotas de bebida, quando a chama se apaga ele levanta-se, faz um sinal para o bar man, deposita duas notas sob o copo vazio e sai, chega até mim, olha fixamente em meus olhos sem falar nada, apenas cumprimenta-me com  o chapéu, empurra a porta lateral e some na neblina da fria noite.

O bar man, recolhe o dinheiro, a garrafa e o copo, mas não toca no cinzeiro, levanto-me e chego até ele, olho dentro das cinzas encontro apenas um pedaço final da carta, nela apenas três palavras duma frase sem fim: “... apenas saudades de ti.


francoa

8 de agosto de 2008

O Amor é uma Arma

Ela tem sua auréola e suas asas
Escondidas sob os meus olhos
Ela é um anjo eu tenho certeza
Ela só não consegue olhar para mim
Já foi pega em uma armadilha
O seu beijo angelical é uma piada
Mas é tarde demais para o meu amor
E ela não voltará

É, ela tem uma mente criminosa
Eu tenho que rezar
A vida dela está por um fio
Agora só quero acordar
É, só para provar que isso é um sonho
Porque ela é o um anjo
Mas eu ainda estou vivo para ser visto

Porque o que o amor dá e o tira
Olhos correm em meu sonho, estão presos
É só um sonho e isto me mantém preso
E somente ela pode me libertar


Estúpido nas ruas de New York
James Dean não mora lá, é fria
Sem ela, não é a mesma coisa
Mas está tudo bem

Seu amor é uma arma? Então...
Mate-me agora

francoa

7 de agosto de 2008

A Cartomante

"... A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:

— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...

Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.

— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...

— A mim e a ela, explicou vivamente ele.

A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.

— As cartas dizem-me...

Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.

— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.

Esta levantou-se, rindo.

— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...

— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?

— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.

Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.

— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...

A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.

Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.

— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.

Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.

— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?

Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão."

francoa

6 de agosto de 2008

Como se fosse verdade

Guarde a imagem de meu rosto, você sabe que eu só tenho uma.
Aproveite seu dia enquanto você é jovem
Hoje sou uma criança, mas um dia você será um homem, foi o que ele me disse
Ah aquela garota...
Todos os dias olho o pôr-do-Sol, mas nunca o vi nascer
Nossos sonhos não são mais os mesmos que costumavam ser
Algumas coisas pararam sem se importar
Cabelos com luzes, em faixas coloridas e unhas com "francesinha"

Não sei se você é real, ou uma imagem que guardei em meu computador
Tantos textos que escreveu, e eu nunca mais os li
Quando converso contigo, olhando uma foto
O tempo foge de mim e não quero mais ficar
Tuas palavras decifradas num chat

Até sinto um medo de te ver
E sei dos teus medos

Olhos em óculos escuros, não me deixam te ver
Eles se escondem onde não posso ter
Teu corpo, pode até não ser
Mas os olhos... estes eu ainda vou ter

E quando nos encontrarmos, não diga nada
As palavras me assustam

Apenas sorria como se meu sonho fosse verdade

francoa

Paixão

Quarta-feira, Dia Internacional do Sofá, sendo que necessitamos de um pouquinho de romantismo, então, posto uma das letras mais lindas que já ouvi, amados, amantes, e namorados apaixonados, leiam e imaginem aquela pessoa que vocês mais amam, recitando os seguintes versos em sus ouvidos, deitados embaixo do cobertor....

Amo tua voz e tua cor
E teu jeito de fazer amor
Revirando os olhos e o tapete
Suspirando em falsete
Coisas que eu nem sei contar...

Ser feliz é tudo que se quer
Ah! Esse maldito fecheclair
De repente
A gente rasga a roupa
E uma febre muito louca
Faz o corpo arrepiar...

Depois do terceiro
Ou quarto copo
Tudo que vier eu topo
Tudo que vier, vem bem
Quando bebo perco o juízo
Não me responsabilizo
Nem por mim
Nem por ninguém...

Não quero ficar na tua vida
Como uma paixão mal resolvida
Dessas que a gente tem ciúme
E se encharca de perfume
Faz que tenta se matar...

Vou ficar até o fim do dia
Decorando tua geografia
E essa aventura
Em carne e osso
Deixa marcas no pescoço
Faz a gente levitar...

Tens um não sei que
De paraíso
E o corpo mais preciso
Que o mais lindo dos mortais
Tens uma beleza infinita
E a boca mais bonita
Que a minha já tocou...

francoa