28 de agosto de 2008

Marcas do tempo - sétima parte

Numa tarde ensolarada de outono, quando as folhas teimavam em manter-se em seus galhos, cachorros corriam brincando na grama verde de seu pátio, crianças pulavam corda cantado canções embaladas pelos ritmos das passadas, garotos ficavam parados nos muros olhando garotas que fingiam não se importar com os olhos que perseguiam seus corpos.

Enquanto ficava conversando com sua esposa sobre planos para o futuro, falando de crianças brincando de roda em seu pátio, filhos, netos e outras coisas. Em instantes lembrava que quase não tivesse a chance de ter um tempo a perder. Poderia nunca ter voltado do campo, foste pior que imaginava, mas não foste tão duro quanto a nova vida que levava. Ainda sentia-se torturado, acordava de noite aos prantos, sempre tivera um ombro amigo para acolhe-lo, e ela cada vez que o olhava, sentia a graça por estar de volta.

Talvez nunca teriam netos, ou até mesmo filhos, mas esta era uma experiência que queria ter, mesmo que tivesse medo, queria ter, pensava em deixar seu nome para novas gerações, não fizera nada que merecesse uma medalha, não matara, apenas serviu ao seu país, salvaste vidas, mas vidas salvas não ganham prêmios, bravuras sim. E ele não foste bravo, não que lhe faltaste coragem, muito pelo contrário, era um dos mais sábios e bravos do campo, mas por ser enfermeiro, não o deixavam se expor.

A cada corpo que caía em combate, muitos mais cairiam se ele não estivesse lá. Nunca deixavam que se arrisca-se precisavam do “médico”, nem que fosse para apenas colocar um pouco de morfina em suas cicatrizes. Por mais que nada adiantasse fazer apenas acalmava a dor.

Tantos rostos sofrendo e hoje aqui nesta cadeira olhando as crianças brincando, fica aquela sensação de que nada valeu a pena, - Pelo o que lutamos? E seus filhos? Nunca encontrou respostas se foram justas as quedas, se todo o sangue derramado limparia a vergonha que hoje sente. 


francoa

27 de agosto de 2008

Marcas do tempo - sexta parte

Enfim amanheceu não gostava das noites de verão, pois não conseguia dormir, suas feridas o incomodavam quando estava quente, coçavam tanto que chegavam a sangrar, mas não sentia dor. Sentia um certo prazer em sofrer, talvez o que vivera.

Quando o sol entrou pela sua janela dando-lhe bom dia e iniciando um novo turno, ele levantou-se disposto, mas naquela manha não foi até a feira, decidira mudar toda a sua história não queria mais passar em frente ao seu retrato ou olhar sua árvore crescendo, decidira abandonar Giulia, mesmo que soubesse que ela não o deixaria ir sem explicação, não queria mais ser responsável por nada de vivo, nem histórias mortas.

Juntou velhas cartas em seu armário e queimou-as segurando em suas mãos até que agüentasse o calor, queria verdadeiramente sentir dor, vivera feliz por muito tempo e isto o incomodava ter uma boa casa, uma linda mulher e um trabalho, estava farto de tudo, não queria saber se os lucros dariam para comprar um novo fogão, ou se a geladeira estava velha, não queria pintar novamente a casa, e sua cama era grande demais.

Escadas em caracol, papel de parede florido, piso encerrado, tudo acabara quando o primeiro facho de luz o despertou, era o início de uma vida nova, deixaria para traz tudo o que construíra, sua casa, sua família, sua esposa.

Sentira um pequeno remorso, mas estava decidido, não queria ser mais um peso para sua esposa, mesmo sabendo que ela o amava e dedicara sua vida ao seu lado.

Então, desceu até a cozinha olhando para cada quadro da parede como se estivesse se despedindo, e estava, percorreu o pequeno corredor que o separava da sala, sentou-se no sofá e olhou sua lareira, ainda com cinzas, que não limpara desde o ultimo frio.

Abriu a porta da cozinha e juntou um banco a mesa, ficou imóvel por alguns minutos, sua esposa preparara a refeição matinal que ele mais gostava como se pressentisse que algo de terrível estivesse por acontecer, olhou por alguns segundos o prato com ovos, bacon e panquecas, então tradicionalmente pediu um pouco de mel.

Ela sabia que ele adorava panquecas com mel, mas nunca colocara na mesa. Não naquela manha.

- Está ao seu lado. Respondeu afavelmente sua esposa, mas ele não respondeu, derramou um pouco sobre as panquecas, pegou o garfo e comeu sem fazer barulho, vagarosamente mastigava cada pedacinho, não tomou suco, pediu água, tomou dois copos em pequenos goles entre cada garfada até limpar todo o prato, primeiro as panquecas, depois os ovos e por fim as duas fatias de bacon torrados.

francoa

Marcas do tempo - quinta parte

Quarta-feira foi uma noite muito fria, a névoa que se formava na rua criava uma neblina que ao encontro da luz brilhava como se estivesse caindo purpurinas nas ruas. Elas estavam desertas, não era tarde, era passada da meia noite, mas o frio afugentou os seus tradicionais habitantes, aquele silencio o assustava mais que os gritos, quando estavam gritando, sabia da onde vinham os temores, mas o silencio... Este era o maior de seus medos.
As noites não eram tranqüilas quando silenciosas, eram assustadoras, como se algo de terrível estivesse para acontecer, ao menor dos ruídos, um estrondo, um grito, uma criança chorando, um velho resmungando, tudo podia acontecer, mas nada de bom acontecia.

Naquela noite bateram em sua porta, seus temores nunca foram tão grandes. – Quem perturba meu descanso? Que descanso... Ele não descansava no silencio, ficava cada vez mais assustado, bateram de novo e de novo, então ele levantou-se e foi até a porta.

Pelas frestas viu o corpo de uma jovem, “pode ser um assalto! ’’, e o que vão levar? Ele mandou que fosse embora, mas ela não foi, ficava imóvel em frente à porta esperando como se soubesse que ele ia abrir, mas não abria, gritava, implorava que fosse embora e não o perturbasse mais. Nada adiantava, ela continuava a bater cada vez mais forte.

francoa

22 de agosto de 2008

Marcas do tempo - quarta parte

- Estou sem fome!; pensou quando chegou a cozinha, - Não quero preparar nada complicado para comer; mesmo que quisesse,  seu cardápio não era variado, nem em condimentos, nem em especialidades, normalmente fazia um arroz, com ovo frito e um pedaço de carne com molho de tomate, todos os dias. Nunca faltava carne, a maioria dos alimentos eram ganhos em troca de trabalho, sua aposentadoria não lhe ajudaria em preparar um banquete, e poder comer carne, já era de bom grado.

Todos os dias, ajudava os feirantes a montarem suas barracas no comércio popular, não era um trabalho dos mais fáceis, mas ele precisava, então não reclamava, agradecia o pouco que lhe davam, mesmo se não dessem nada ele faria, apenas para sentir-se útil, e os feirantes o ajudariam com ou sem trabalho, gostavam deve. O conheciam a muito tempo.

Na primeira vez que ele chegou à feira, foi há muito tempo, recém voltara do campo, ainda era jovem, apesar das marcas no corpo e as cicatrizes no rosto não condizerem. Foi num verão muito quente, logo que desceu do ônibus, foi a praça reencontrar a sua amiga, e lá estava ela, no mesmo lugar, grande, forte e bonita, lindas flores cobriam seus galhos, olhas verdes. Ficou por um tempo parado em sua frente olhando-a como se fosse a única coisa que existisse naquele lugar, largou a pesada mochila no chão, caminhou até ela e começou a acariciar seu tronco. Nele ainda havia marcas em formatos de coração que com o tempo fora descascando, hoje não mais permitido fazer.

Ao final da tarde retornava ao comércio para terminar a sua tarefa, depois de desmontar as barracas, recolhia seu por assim dizer salário e voltava para a casa, não sem antes olhar o seu retrato.


francoa

21 de agosto de 2008

Marcas do tempo - terceira parte

Durante os dias, passeava pela sua cidade, viu ela crescer aos poucos, de um pequeno vilarejo com estradas de terra que hoje se transformara em uma cidade, ainda que pequena, muito movimentada, pois era, praticamente a porta de entrada da grande metrópole existia ao lado, o que antes fora uma vila, hoje era uma cidade satélite, onde vivem apenas os bestializados. Estes que não se enquadram no padrão de riqueza da cidade.

Quando criança corria de seu jardim até a praça que ficava a poucas quadras de sua casa, chinelos ralos, uma pequena calça e uma camiseta branca, toda suja com a poeira das carroças que por lá transitavam, era uma criança feliz, passava as tardes olhando as pessoas que caminhavam por lá.

Nela tinha plantado uma muda e cuidara desde pequeno, hoje transformada em árvore, não dava mais que sobra, sonhara em colher seus frutos, mas não era uma árvore frutífera, mesmo assim não sentia-se triste, tinha um legado a ser deixado. Toda a tarde corria até ela com um copo e molhava as pequeninas folhas que nascera, ficava admirando sua beleza e simplicidade, o quão miudinha era, e tamanha força tinha. Passava horas olhando as folhas, cariciando-as.

Quando foi chamado a ajudar, fez de bom grado, mas não antes de se despedir de sua melhor amiga e confidente, já eram bem grandinhos, mas não perderam o carinho que ambos tinham um pelo outro, parecia que ela crescesse esperando a sua volta, ela que tanta sobra deu para seus amantes que se acolheram, galhos como balanços para as crianças e um forte tronco que nasceu para receber declarações eternas de amor, que não duram.

O chamado destruiu seu sonho de rever os amigos que por lá transitavam, mas seu pai voltara.


francoa

Marcas do tempo - segunda parte

Durante a noite a folga entre os vidros da janela vibram provocando um pequeno zumbido que aos seus ouvidos trazem uma pequena canção, é uma melodia que cantava quando criança e hoje serve apenas de lembrança dos seus tempos juvenis

Da pequena cama encostada na janela ele fica observando os transeuntes que perturbam seu sono, sua janela possui apenas sujos vidros que ele consegue limpar por dentro, acho que nunca ousou abrir-la, talvez por medo que a mesma de tão velha, pudesse desmanchar e não teria condições de consertá-la, “melhor deixar assim”; pensava.

Os gritos na rua não o incomodavam mais, os seus próprios também não, era o que sobrou de seu passado, seus medos ficavam acomodados ao seu lado, junto com os remédios que o mantinham vivo, até pensou em parar com eles, mas ainda tinha medo, depois de tudo o que viveu a morte inda era o pior dos pesadelos.

A noite, quando acordava sufocado pela tosse que insistia em não o abandonar, pedia que Deus acabasse com a sua agonia, sentia tanta dor que jurava estar morrendo. Logo ele, que inúmeras pessoas salvou durante as batalhas, hoje perdia sua luta consigo mesmo.


francoa

18 de agosto de 2008

Marcas do tempo - primeira parte

Um velho de barbas longas atravessa vagarosamente a rua para chegar em frente a uma loja de retratos antigos, ele para em frente a embaçada vitrine e fica admirando seu retrato de quando era jovem.

Todos os dias ele repete a mesma procissão, sai de sua casa quase caindo aos pedaços, somente para, por alguns instantes, relembrar de seu passada.

É um retrato antigo com uma moldura de madeira pintada em cores verde e dourado, entalhada a mão. Este senhor que outrora fosse moço, vestido em seu pesado uniforme verde de campanha, capacete, colete e fuzil, estes não os melhores do mundo, mas foram dele. Sua arma não era a mais precisa, seu colete era remendado, fora de outros antes dele o aposentar, mas o elmo, este sim, teve apenas um dono. Ele fica imóvel na frente de seu retrato, como se reverenciasse aquele jovem, quem passa todos os dias naquela rua, com certeza já viu esta cena. Hoje aparentando o dobro de sua idade, e com a saúde abalada mais pelos remédios ausentes do que a sua própria doença o poderia abalá-lo, não resta mais nada a fazer a não ser reverenciar ao seu passado. Este não fora um sargento, tenente ou cabo... foste apenas um soldado, mas com uma tarefa muito especial, fora enfermeiro de guerra.

Quando se alistou, não queria defender a sua pátria, não queria matar nenhum inimigo da liberdade, queria apenas ajudar aos que necessitavam

Continua amanhã....


francoa

15 de agosto de 2008

Tempos Distantes pat. 2

Há um bom tempo tenho pensado nisso...

Com o passar dos anos, e por conseqüência... os amores

Sinto-me traindo a mim mesmo

Quando digo “eu te amo!”, fico com a mesma pergunta

“Quem eu realmente amei?”

Gosto de ser sincero com as pessoas, mas as vezes

As emoções falam mais alto

E depois fica esta sensação estranha

 

Será que estou sendo verdadeiro?

A quem quero enganar?

É ao mesmo tempo engraçado

Não conheço ninguém que se importe com isso

Ou não expressam, tem medo de perder seu escudo

Aqueles que perdem, ficam frágeis.. até demais

Se assustam e fogem

 

Então.. está na hora de fugir

 

francoa

Tempos distantes

"esta postagem não é uma crônica, ou uma história, é um dos meus velhos e bons desabafos, então, não procurem concordâncias entre os textos... apenas leiam."


É estranho dizer isso, pois não sei exatamente o que me falta

Mas sinto em ti uma falta, talvez nem seja realmente uma falta

Pois uma falta, é considerado também um erro

E não errei contigo, talvez estivéssemos em tempos diferentes

Mas não seria errar, não acho que erramos, apenas... nos precipitamos

Eu principalmente

 

Demorei, e aos poucos entendi, que não temos o domínio do nosso tempo

Não sabemos o momento certo das coisas

Qual seria a melhor hora durante a festa, para chegar na garota e dizer “Oi!”

Ou quanto tempo deveríamos ter tido para dizer “Eu te amo!”

Na verdade nunca saberemos

E qual a melhor hora para dizer  “Quero um tempo!”

E qual a melhor resposta “Você me ama?”

 

Não... não temos respostas, apenas novas perguntas

Deveria ter ligado ontem, deveria ter escrito

Mas você queria estar sozinha, como saberia

É impossível prever o que pode acontecer

“O que as cartas dizem?”

 

Elas dizem que temos o nosso tempo

Talvez não hoje

Mas um dia

Com certeza

Teremos


francoa

14 de agosto de 2008

Intrigante

Encontrada em vários estabelecimentos:

"Só Vendo, Vendo
Não Vendo, Não Vendo!"

francoa

13 de agosto de 2008

Quando o carnaval chegar

Quarta dia do sofá.. uma música pra relaxar...


"Quem me vê sempre parado, distante

Garante que eu não sei sambar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando
E não posso falar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo as pernas de louça da moça que passa e não posso pegar
Há quanto tempo desejo seu beijo
Molhado de maracujá
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando
Que eu vou aturar
E quem me vê apanhando da vida duvida que eu vá revidar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo a barra do dia surgindo, pedindo pra gente cantar
Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem me dera gritar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar"

Chico B. Holanda

francoa


A Senhorita Catarina

Em uma pacata e pequena cidade do interior vivia uma belíssima burguesa de aproximadamente vinte e dois anos, gorduchinha e roliça, carnes as mais viçosas e apetitosas, todas as formas modelares, ainda que um pouco cheias, e que acrescentava a tão fartos encantos presença de espírito, vivacidade, e gosto o mais aguçado por todos os prazeres que lhe proibiam as rigorosas leis da sociendade.

Casada e exemplar dona de casa, há alguns anos decidira arranjar dois ajudantes para seu marido que, sendo velho e feio, a ela não somente desagradava  muito, como também cumpria mal o seu papel.

Talvez, com um pouco mais de desempenho, poderiam acalmar a incansável Catarina - assim se chamava nossa bela burguesa.  Nada mais bem combinado do que os encontros marcados com esses dois amantes: Rafael, jovem militar, ficava normalmente das quatro às cinco horas da tarde, e das cinco e meia às sete chegava

Guilermo, jovem negociante com o rosto mais bonito que o mundo já fez. Eram os únicos em que a sra.  Catarina estava tranqüila: de  manhã,  era preciso estar na loja e, à tarde, também tinha de aparecer por lá algumas vezes, ou então o marido voltava para casa, e deviam falar de seus negócios. 

Por sinal, a Sra. Catarina havia confidenciado a uma de suas amigas que ela gostava muito que os momentos de prazer se sucedessem assim muito próximos um do outro: a chama da imaginação não se apagava, ela assegurava; desse modo, nada mais temo do que passar de um prazer a outro.

Não era difícil retomar a ação, pois a sra. Catarina era uma criatura encantadora que calculava ao máximo todas as sensações do amor; pouquíssimas mulheres tinham tanto conhecimento dos pontos de prazeres do seu próprio corpo como ela própria e, em virtude dos seus talentos, reconhecera que, depois de muito calcular, dois amantes valiam muito mais do que um.

Com respeito à reputação, era quase a mesma coisa, um encobria o outro. Poderiam se equivocar, poderia ser sempre o mesmo a entrar e sair várias vezes durante o dia, mas em relação ao prazer, quanta diferença!

Certo dia a ordem fixada nos encontros veio a se perturbar, e nossos dois amantes, que nunca se tinham visto, conheceram-se de maneira engraçada, conforme relatarei.  Rafael foi o primeiro, mas chegara muito tarde, e como se o diabo tivesse se intrometido no horário, Guilermo, que era o segundo, chegou um pouco mais cedo. Infelizmente, um encontro infalível sucedeu. Nosso jovem militar, cansado do papel de amante, quis, por uns momentos, representar o de conjuge, ao invéx de ir embora após o tórrido romançe, quiz ficar montado em sua “esposa” por algum tempo, deitados como diríamos “de conchinha”. A sra.  Catarina que, nua como a Vênus, e encontrando-se perfeitamente encaixada em seu amante, apresentava, diante da porta do quarto onde se celebravam os mistérios do prazer e do amor.

Tal era a atitude quando Guilhermo, acostumado a entrar sem dificuldade pela janela lateral do porão, chega cantarolando baixinho, entra no seu ninho de prazer e vê por um ângulo o que uma mulher verdadeiramente honesta não deve fazer. O que teria causado grande prazer a muitas pessoas fez com que Guilermo recuasse.

- O que vejo? - exclamou - ... traidora... é isso que me reservas?

Sentía-se o próprio marido traído, mesmo sendo este, apenas um amante.

A sra.  Catarina que, naquele momento, se encontrava numa dessas crises em que uma mulher age infinitamente melhor do que raciocina, resolve mostrar-se audaciosa:

- Que diabo tens tu, - diz ela ao segundo - sem deixar de se entregar ao outro

- Não vejo nisso nada que te cause muito pesar...  não nos perturbes, meu amigo, e contentate com o que te resta; como bem podes notar, há lugar para dois.

Guilermo, não conseguindo deixar de rir do sangue-frio de sua amante, pensou que o mais simples era seguir o conselho dela, não se fez de rogado.

Dizem que os três lucraram com isso...


francoa

11 de agosto de 2008

Um bar

Caminhando numa noite fria de inverno, sem nada de útil para fazer, sigo por ruas antes não percorridas.

Em uma delas encontro um bar aberto, uma luz turva que vem de dentro me convida à entar, não resito ao seu convite, o que de melhor teria para fazer? Poucas mesas ocupadas, e o balcão retangular deserto. Apenas um bar man nele. escolho uma mesa ao fundo, onde nem mais a luz consegue chegar e fico apensas admirando os seres que aqui ambientam.

Um casal na mesa do centro conversa alegremente, parece íntimos, um senhor dorme sobre a mesa ao fundo com um copo de cerveja em uma das mãos, a outra serve de travesseiro para seus sonhos. 

Ao seu lado uma senhora aparentando meia idade, bebe alegremente sozinha, cantarolando uma música antiga que não conheço, mas a melodia soa bem familiar.

Sentado em um dos bancos altos do balcão está um homem de terno cinza, com chapéu bege escuro, seus cotovelos o mantém inclinado sobre o balcão, a sua frente uma garrafa quase vazia de Jack Daniels, e um copo com pouco gelo.

Ele parece estar conversando com seu copo enquanto fuma, com o dedo indicador da mão direita faze o gelo rodar dentro do copo, olhando-o fixamente, dá uma longa tragada, retira o cigarro da boca e toma um longo gole, então solta a fumaça que preenche os seus pulmões, coloca novamente o cigarro no canto da boca, pega a garrafa com a mão esquerda, tira a tampa e despeja o resto do conteúdo no copo, e larga novamente a garrafa, toma o whisky, em três longos goles, parece que está de saída, com pressa de terminar a bebida...

Então ele abre o paletó e retira do bolso interno um envelope, abre-o e retira uma carta dobrada em três partes, fixa os olhos sobre ela, fico com a impressão que aquela carta já tivesse sido lida antes.

Ele coloca-a novamente no envelope, retira do bolso direito da calsa um isqueiro prateado, acende sua chama, admira-a por uns segundos e então coloca fogo na cartas.

Segurando com a mão esquerda a carta e com o isqueiro na direita ele espera até que a chama se complete, deposita a carta e seu envelope sobre um cinzeiro branco manchado e fica apenas olhando ambos queimando, enquanto desfruta de suas ultimas gotas de bebida, quando a chama se apaga ele levanta-se, faz um sinal para o bar man, deposita duas notas sob o copo vazio e sai, chega até mim, olha fixamente em meus olhos sem falar nada, apenas cumprimenta-me com  o chapéu, empurra a porta lateral e some na neblina da fria noite.

O bar man, recolhe o dinheiro, a garrafa e o copo, mas não toca no cinzeiro, levanto-me e chego até ele, olho dentro das cinzas encontro apenas um pedaço final da carta, nela apenas três palavras duma frase sem fim: “... apenas saudades de ti.


francoa

8 de agosto de 2008

O Amor é uma Arma

Ela tem sua auréola e suas asas
Escondidas sob os meus olhos
Ela é um anjo eu tenho certeza
Ela só não consegue olhar para mim
Já foi pega em uma armadilha
O seu beijo angelical é uma piada
Mas é tarde demais para o meu amor
E ela não voltará

É, ela tem uma mente criminosa
Eu tenho que rezar
A vida dela está por um fio
Agora só quero acordar
É, só para provar que isso é um sonho
Porque ela é o um anjo
Mas eu ainda estou vivo para ser visto

Porque o que o amor dá e o tira
Olhos correm em meu sonho, estão presos
É só um sonho e isto me mantém preso
E somente ela pode me libertar


Estúpido nas ruas de New York
James Dean não mora lá, é fria
Sem ela, não é a mesma coisa
Mas está tudo bem

Seu amor é uma arma? Então...
Mate-me agora

francoa

7 de agosto de 2008

A Cartomante

"... A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:

— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...

Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.

— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...

— A mim e a ela, explicou vivamente ele.

A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.

— As cartas dizem-me...

Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.

— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.

Esta levantou-se, rindo.

— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...

— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?

— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.

Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.

— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...

A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.

Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.

— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.

Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.

— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?

Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão."

francoa

6 de agosto de 2008

Como se fosse verdade

Guarde a imagem de meu rosto, você sabe que eu só tenho uma.
Aproveite seu dia enquanto você é jovem
Hoje sou uma criança, mas um dia você será um homem, foi o que ele me disse
Ah aquela garota...
Todos os dias olho o pôr-do-Sol, mas nunca o vi nascer
Nossos sonhos não são mais os mesmos que costumavam ser
Algumas coisas pararam sem se importar
Cabelos com luzes, em faixas coloridas e unhas com "francesinha"

Não sei se você é real, ou uma imagem que guardei em meu computador
Tantos textos que escreveu, e eu nunca mais os li
Quando converso contigo, olhando uma foto
O tempo foge de mim e não quero mais ficar
Tuas palavras decifradas num chat

Até sinto um medo de te ver
E sei dos teus medos

Olhos em óculos escuros, não me deixam te ver
Eles se escondem onde não posso ter
Teu corpo, pode até não ser
Mas os olhos... estes eu ainda vou ter

E quando nos encontrarmos, não diga nada
As palavras me assustam

Apenas sorria como se meu sonho fosse verdade

francoa

Paixão

Quarta-feira, Dia Internacional do Sofá, sendo que necessitamos de um pouquinho de romantismo, então, posto uma das letras mais lindas que já ouvi, amados, amantes, e namorados apaixonados, leiam e imaginem aquela pessoa que vocês mais amam, recitando os seguintes versos em sus ouvidos, deitados embaixo do cobertor....

Amo tua voz e tua cor
E teu jeito de fazer amor
Revirando os olhos e o tapete
Suspirando em falsete
Coisas que eu nem sei contar...

Ser feliz é tudo que se quer
Ah! Esse maldito fecheclair
De repente
A gente rasga a roupa
E uma febre muito louca
Faz o corpo arrepiar...

Depois do terceiro
Ou quarto copo
Tudo que vier eu topo
Tudo que vier, vem bem
Quando bebo perco o juízo
Não me responsabilizo
Nem por mim
Nem por ninguém...

Não quero ficar na tua vida
Como uma paixão mal resolvida
Dessas que a gente tem ciúme
E se encharca de perfume
Faz que tenta se matar...

Vou ficar até o fim do dia
Decorando tua geografia
E essa aventura
Em carne e osso
Deixa marcas no pescoço
Faz a gente levitar...

Tens um não sei que
De paraíso
E o corpo mais preciso
Que o mais lindo dos mortais
Tens uma beleza infinita
E a boca mais bonita
Que a minha já tocou...

francoa

4 de agosto de 2008

Rui Barbosa e o Ladrão.

Excepcionalmente hoje, transcrevo uma história, verdadeira... ou não, mas muito interessante.

Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal.  Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação.

Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:

- Oh, bucéfalo anácrono! 
- Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndido da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. 
- Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada.

E o ladrão, confuso, diz:

- Doutor, eu levo ou deixo os patos?

Francoa

Uma criança, Mil sonhos.

Achei este texto na net, e como adoro crianças, escolhi postar ele.

Esses dias calcularam o custo para criar um filho, do seu nascimento aos 18 anos. São US$ 160.140,00 para uma família de classe média. O valor é chocante! E esse valor não cobre a formação escolar.

Mas, se você parcelar, US$ 160.140,00 não é tão ruim assim. Ele se traduz em:

US$ 8.896,66 por ano
US$      741,38 por mês
US$      171,08 por semana
US$        24,24 por dia.

Cerca de um dólar por hora.

O que você ganha com US$ 160.140,00?

* Direito de dar nomes. O primeiro, o do meio e o último.
* Olhares de Deus todos os dias.
* Risadinhas debaixo das cobertas todas as noites.
* Mais amor do que seu coração pode suportar.
* Beijos jogados no ar e abraços com velcro.
* Infinitas admirações por pedras, formigas, nuvens e biscoitos.
* Uma mão para segurar, normalmente suja de geléia ou chocolates.
* Um parceiro para fazer bolhas de sabão, soltar pipas.
* Alguém para fazer você rir como bobo, não importa o que seu chefe tenha dito ou como as bolsas se comportaram nesse dia.

Por US$160.140,00 você não precisará crescer nunca. Você deve:

Ter os dedos sujos de tinta, modelar abóboras, brincar de esconde-esconde, pegar vaga-lumes, e nunca parar de acreditar em Papai Noel.

Você terá uma desculpa para: Continuar a ler as Aventuras do Ursinho Pooh, assistir desenhos animados ao sábado pela manhã, desenhar coisas com as nuvens e fazer pedidos a estrelas.

Você recebe molduras de arco-íris, de corações ou flores sob imãs de geladeira ; conjunto de mãos impressas em argila para o Dia das Mães, e cartões com letras viradas para o Dia dos Pais.

Por US$ 160.140,00, não há outro jeito mais fácil de ficar famoso.

Você é um herói apenas por: recuperar uma bola do telhado da garagem, retirar as rodinhas da bicicleta, remover uma farpa do dedo, encher uma piscina de plástico, fazer bola de chiclete sem estourar e treinar um time de futebol que nunca vence mas sempre recebe sorvete de prêmio.

Você tem lugar na primeira fila da “história” como testemunha: Dos primeiros passos, Das primeiras palavras, Do primeiro sutiã, Do primeiro namoro, e Da primeira vez atrás do volante de um carro.

Você fica imortal.

Você tem um novo braço na sua árvore genealógica e, se tiver sorte, uma longa lista de membros no seu obituário, chamados netos e bisnetos.

Você recebe formação em psicologia, enfermagem, justiça criminal, comunicação e sexualidade humana que nenhuma faculdade pode lhe dar.

Aos olhos de uma criança, você localiza-se logo abaixo de Deus.

Você tem poder para curar um choro, espantar os monstros que estão debaixo da cama, remendar um coração partido, policiar uma festa sonolenta, cultivá-los sempre e amá-los sem limites. E assim algum dia, eles como você, amarão sem medir os custos.

É um excelente negócio por esse preço!

É o melhor investimento que você fará.

Autor: Desconhecido

Depois de ler isto, eu fico com uma pergunta, como pode uma mãe abandonar seu filho, ou um pai, não amar...

Esta postagem é em homenagem aos meus pais, obrigado por todo o amor que recebi.

francoa

1 de agosto de 2008

Escolhas

Escolha viver. Escolha um emprego.

Escolha uma carreira, uma família.

Escolha uma televisão enorme, com DVD.

Escolha máquina de lavar roupas, carros, CD players e abridores de latas elétricos, torradeiras, fornos de micro-ondas.

Vamos!

Escolha ter saúde, colesterol baixo e plano dentário.

Escolha produtos sem glutem.

Escolha uma empréstimo a juros fixos. Prestações debitadas em folha de pagamento.

Escolha sua primeira casa, seu carro, armário e cabideiro, uma cama bem grande.

Escolha a geladeira com uma bobagem na frente que despeja água gelada.

Escolha ter namorada.

Escolha seus amigos.

Escolha roupas esporte, “cótons” colados ao corpo.

Escolha um terno numa variedade de tecidos e cores que chegam a enjoar os olhos.

Escolha fazer consertos em sua casa e pensar na vida domingo de manhã. Colocar quadros na parede, regar plantas.

Escolha sentar-se no sofá e ficar vendo programas chatos na TV comendo porcaria e bebendo Coca-Cola.

Vamos!

Escolha apodrecer no final de sua vida, beber num lar que envergonha os filhos egoístas que pôs no mundo para substituí-lo, chamando-os de meus sucessores. A próxima geração.

Escolha o seu futuro.

Escolha viver????

Mas por que eu iria querer isso?

Escolhi não viver. Escolhi outra coisa.

E os motivos...

Bem... Não há motivos...


francoa