26 de março de 2009

Aurora de nossos dias.


Bom dia minha queria! Ela odiava quando a chamava de querida, preferia ser morta a facadas a ser chamada assim, não sei o motivo de tanta revolta com uma simples frase, mas a incomodava-a.

Nunca me importei com a situação, eu simplesmente evitava os incômodos, não gostava de ficar brigando e quando ela estava com aquela cara, era melhor eu nem começar com gracinhas.

Não naquela manha fria de agosto, acordei com vontade de provocar, sabe aqueles dias que vc não quer conhecer o mundo em que vive? Bem eu acordei num dia desses, muitos outros já tinha acordado com esta sensação, mas sempre relevava, para a sua infelicidade, naquela manha eu acordei disposto a tudo, disposto a matar com elevado grau de tortura ou disposto a amar como se nunca tivesse amado.

Esperava apenas pelo sinal dela me indicando o que queria que eu fizesse. Um olhar, uma fala, ou um gesto, era tudo o que esperava, queria uma fala ríspida, um gesto grosso, um olhar sutil, qualquer coisa que pudesse me provocar qualquer gasolina que incendiasse minha chama de ódio, vingança ou coisa do tipo.

Levantei da cama, fui até a cozinha preparar algo pra comer, fiz um café, bem forte, sem adoçar, da maneira que ela mais odiava. Nunca tomávamos café na cama, farelos de pão na cama? Nunca, nem em sonhos. Mancha de café na fronha? Seria morte na certa.

Coloquei a chaleira no fogo, com quatro colheres de pó já dentro da água, enquanto aquecia, peguei uma fatia de pão e coloquei na torradeira, assim faria mais farelos, o pão torrou, coloquei sobre o prato e passei um pouco de margarina que estava no pote sobre a mesa, não se lembrava de ter se esquecido de guardar na noite anterior, uma xícara estava ao seu lado, com restos de açúcar no fundo. A água ferveu, uma mistura de água e café saiu pela borda, enchi á até a borda e fui vagarosamente até o quarto.

Então coloquei o prato sobre o travesseiro, no canto uma xícara bem cheia, quase derramando, saindo fumaça  de tão quente, sentei de costas, não queria rir quando ela começar a reclamar.

Comi o pão, ofereci o ultimo pedaço e ela não falou nada, imaginei o quanto brava estaria, ria por dentro, achava que não agüentaria, mas me controlei, espalhei farelo por toda a minha borda da cama, quando peguei o café, algumas gotas escorreram pela borda caindo suavemente no lençol. Tomei um pequeno gole. É agora, ela vai falar algo, mas nada, comecei a estranhar o porquê de tanto descaso.

Coloquei o prato no chão com a xícara por cima, subi na cama novamente, e toquei de leve seu rosto, tão frio. Só então percebi que algo já tinha fugido de meu controle há muito tempo.


(imagem: Salvador Dali)

francoa

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