1 de setembro de 2008

Marcas do tempo - nona parte

Eram tempos difíceis para manter-se sóbrio. O mundo em guerra, pessoas odiando-se, jovens matando-se, o mudo ficando louco, apesar de uns loucos gritarem por paz.

Assistir televisão era uma tortura pois as notícias nunca eram boas, somente bombas e mais violência.

Triste, sentado no sofá, chorava pequenas lágrimas pelo mundo que ajudara a criar, sabia que fizera parte daquilo tudo, o que tinha se transformado, toda aquela ideologia de um mundo livre de tiranos, em que as pessoas teriam a liberdade para escolher seu destino, tudo transformando em mais ódio, mais violência. Novos inimigos (estes muito poderosos) e intolerância.

Participou da campanha pelo mundo livre do racismo, que deu direito a negros de serem felizes e livres, a liberdade sempre estava em voga, antes os negros não tinham direitos, nada podiam contra quem os humilha, agora estavam armados, antes tinham apenas as armas, os pensamentos e os ideais. Hoje tinham as munições, balas de chumbo, tão poderosas quanto uma idéia.

Queriam um mundo livre, então criavam muros que separavam os ideais opostos. Era estranhamente irônico: pessoas que antes defendiam a total liberdade, hoje pregando a arbitrariedade.

E ele sentado no velho sofá, aquecendo-se ao lado do fogão à lenha, cheirando fumaça de madeira verde. Sentia um remorso por ter ajudado a construir este mundo. Não disparou um único tiro, mas falaram à multidões sobre suas idéias e estas foram as piores armas usadas.

Hoje, nada podia contra os homens que ajudara a tomar o poder, era apenas um velho solitário que se sentia inútil, a cada notícia retratando a morte de um jovem, pedia para morrer em seu lugar.

– O que me tornei? Gritava consigo mesmo todos os dias, não entendia como idéias tão boas poderiam matar tantas pessoas inocentes.

francoa

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