1 de setembro de 2008

Marcas do tempo - oitava parte

Como é bom sentir o vento em suas asas, uma luta árdua para ver quem é o mais forte: o vento ou suas asas. – Mais rápido!!!! Mais, mais!!! Sentia como se fosse ordenado por seu brinquedo, a velha pandorga puxada contra o vento que insistia em não levantá-la. Nunca aprendera como empinar pipa, então corria contra o vento obrigando-o a voar, aos poucos ia cansando, perdendo as forças, mas sentia-se cada vez mais forte, nada podia contra eles.

Quando JJ chegou, ele já estava sentado junto ao meio fio que separava a empoeirada estrada e o pequeno passeio. Cansado, sujo, mas com um sorriso que cativava qualquer um, era uma criança feliz, apesar de todas as dificuldades. Nunca faltou comida em sua mesa, o mesmo não pode se dizer de suas roupas, como a velha calça rasgada nos joelhos. – Mas foi um tombo incrível, mãe! E não foi culpa minha, o JJ me derrubou, eu juro! Disse à ela quando chegou em casa com os joelhos pingando sangue, a dor era insuportável, mas mantinha o lindo sorriso no rosto.

- Como foi?

- Cara, foi muito bom, ela voou muito alto! Quase não conseguia segurar o fio, tinha vida própria.

- Duvido!

- Por quê? Não podes?

- A tua não voa, e tu não sabes empinar.

- Ahhh! Cara... tu não sabe nada, eu mudei o ângulo de incidência, e ficou muito bom, quer ver?

- Quero!

- Está bem, amanhã te mostro, hoje estou cansado.

- Duvido, mas deixa pra lá.

Eram amigos fieis, nunca brigavam, por mais viris que fossem. JJ era mais velho e também mais esperto, nunca perdeu uma aposta, só apostava quando sabia que podia ganhar, por menor que fosse o prêmio: uma bala ou uma pedra, mas nunca perdera.

Suas casas eram próximas. De manhã, nem bem acordavam, já estavam juntos em frente à casa de dona Lucinha, uma simpática senhora que sempre preparava o café da manhã para os meninos. Saíam de casa correndo para ver quem chegava primeiro na casa da vó Lu (era como a chamavam). Ela sempre querida, recebia os dois com um forte abraço. – Meus meninos! Como vocês crescem rápido! Exclamava todos os dias. Entrava, sentavam em frente ao fogão à lenha e impacientes esperavam o pedaço de bolo com chá que era preparado na hora, o bolo tinha que ser de laranja, eles adoravam.

Depois, cada um lavava seu prato e sua xícaras colocavam-nas no escorredor, agradeciam e saiam pela longa rua correndo, apostando quem era o mais forte ou o mais rápido. Nunca chegaram à conclusão, mesmo JJ perdendo quase todas as corridas. Consideravam-se imbatíveis.

– Eu com a minha força e você, JJ com a sua inteligência, somos imbatíveis.

francoa

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