22 de julho de 2008

O toureiro

José Arriaga nasceu em berço nobre, era um típico garoto aristocrata burguês espanhol, mas desde sua infância, sentia um desafio, um prazer em olhar nos olhos dos animais.

Cresceu, e formou-se em Direito por uma das mais renomeadas escolas de seu país, mas o ímpeto dos olhos estava lá, aquela mistura de prazer e medo que tanto o despertava.

Abandonou a advocacia e se entregou ao seu prazer, defrontar o perigo, encarar o seu algoz, tornou-se toureiro. Mas não apenas um simples toureiro, o melhor, mais habilidoso, dedicado e fiel toureiro que já existira.

El Coche, como era conhecido, não era um homem que brincava com os animais, ele lhes ensinava a dar valor a cada suor, cada gota de sangue, a cada aplauso. El Coche, não sacrificava seus colegas de trabalho, como costumava chamá-los, ele morria junto, a cada espetáculo, um pouco...

Até que chegou o dia de sua aposentadoria, ele entrou em seu domínio, saudou seus anfitriões, ajustou sua capa e mandou que soltassem a fera, incrivelmente, o touro, parecia que o conhecia, ele não correu de fronte, caminhou vagarosamente até ele, ambos fizeram um espetáculo maravilhoso, sem uma gota de sangue. Não foi preciso arpoes para deixar o animal raivoso, ele sabia que seria a despedida de Coche, não haveria outra oportunidade para ambos se defrontarem, na arena estava anos de experiência, Coche nunca havia se machucado, isto era inadmissível para ele.

Ao final do segundo ato, Coche ajoelhou-se em frente ao touro, este que ficava parado como se haviam combinado anteriormente.

O animal chegou perto dele, olhou em seus olhos encostou os chifres em seu peito, o público esperava uma manobra mirabolante, uma cambalhota, qualquer coisa que o tirasse daquela posição amedrontadora, mas não.

Ele encostou seus chifres no peito de José e empurrou com força, como  se estivesse acabando com o sofrimento de um amigo, José não se moveu, não gritou, não soltou nenhum hurro, apenas sorriu. Estava consumado, era o fim de uma era de glória. O público não acreditava no que estava vendo, um homem franzino sendo sacrificado em seu próprio espetáculo, ninguém ousou aplaudir, ninguém chorou.

O animal posteriormente foi sacrificado e dizem que assim como José, não demonstrou sinal de dor.

Uns dizem que José virou um santo, ou um mártir, ao certo, não se sabe, o que se sabe é que o touro, naquele final de semana alimentou a festa.


francoá

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