27 de agosto de 2008

Marcas do tempo - sexta parte

Enfim amanheceu não gostava das noites de verão, pois não conseguia dormir, suas feridas o incomodavam quando estava quente, coçavam tanto que chegavam a sangrar, mas não sentia dor. Sentia um certo prazer em sofrer, talvez o que vivera.

Quando o sol entrou pela sua janela dando-lhe bom dia e iniciando um novo turno, ele levantou-se disposto, mas naquela manha não foi até a feira, decidira mudar toda a sua história não queria mais passar em frente ao seu retrato ou olhar sua árvore crescendo, decidira abandonar Giulia, mesmo que soubesse que ela não o deixaria ir sem explicação, não queria mais ser responsável por nada de vivo, nem histórias mortas.

Juntou velhas cartas em seu armário e queimou-as segurando em suas mãos até que agüentasse o calor, queria verdadeiramente sentir dor, vivera feliz por muito tempo e isto o incomodava ter uma boa casa, uma linda mulher e um trabalho, estava farto de tudo, não queria saber se os lucros dariam para comprar um novo fogão, ou se a geladeira estava velha, não queria pintar novamente a casa, e sua cama era grande demais.

Escadas em caracol, papel de parede florido, piso encerrado, tudo acabara quando o primeiro facho de luz o despertou, era o início de uma vida nova, deixaria para traz tudo o que construíra, sua casa, sua família, sua esposa.

Sentira um pequeno remorso, mas estava decidido, não queria ser mais um peso para sua esposa, mesmo sabendo que ela o amava e dedicara sua vida ao seu lado.

Então, desceu até a cozinha olhando para cada quadro da parede como se estivesse se despedindo, e estava, percorreu o pequeno corredor que o separava da sala, sentou-se no sofá e olhou sua lareira, ainda com cinzas, que não limpara desde o ultimo frio.

Abriu a porta da cozinha e juntou um banco a mesa, ficou imóvel por alguns minutos, sua esposa preparara a refeição matinal que ele mais gostava como se pressentisse que algo de terrível estivesse por acontecer, olhou por alguns segundos o prato com ovos, bacon e panquecas, então tradicionalmente pediu um pouco de mel.

Ela sabia que ele adorava panquecas com mel, mas nunca colocara na mesa. Não naquela manha.

- Está ao seu lado. Respondeu afavelmente sua esposa, mas ele não respondeu, derramou um pouco sobre as panquecas, pegou o garfo e comeu sem fazer barulho, vagarosamente mastigava cada pedacinho, não tomou suco, pediu água, tomou dois copos em pequenos goles entre cada garfada até limpar todo o prato, primeiro as panquecas, depois os ovos e por fim as duas fatias de bacon torrados.

francoa

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