11 de agosto de 2008

Um bar

Caminhando numa noite fria de inverno, sem nada de útil para fazer, sigo por ruas antes não percorridas.

Em uma delas encontro um bar aberto, uma luz turva que vem de dentro me convida à entar, não resito ao seu convite, o que de melhor teria para fazer? Poucas mesas ocupadas, e o balcão retangular deserto. Apenas um bar man nele. escolho uma mesa ao fundo, onde nem mais a luz consegue chegar e fico apensas admirando os seres que aqui ambientam.

Um casal na mesa do centro conversa alegremente, parece íntimos, um senhor dorme sobre a mesa ao fundo com um copo de cerveja em uma das mãos, a outra serve de travesseiro para seus sonhos. 

Ao seu lado uma senhora aparentando meia idade, bebe alegremente sozinha, cantarolando uma música antiga que não conheço, mas a melodia soa bem familiar.

Sentado em um dos bancos altos do balcão está um homem de terno cinza, com chapéu bege escuro, seus cotovelos o mantém inclinado sobre o balcão, a sua frente uma garrafa quase vazia de Jack Daniels, e um copo com pouco gelo.

Ele parece estar conversando com seu copo enquanto fuma, com o dedo indicador da mão direita faze o gelo rodar dentro do copo, olhando-o fixamente, dá uma longa tragada, retira o cigarro da boca e toma um longo gole, então solta a fumaça que preenche os seus pulmões, coloca novamente o cigarro no canto da boca, pega a garrafa com a mão esquerda, tira a tampa e despeja o resto do conteúdo no copo, e larga novamente a garrafa, toma o whisky, em três longos goles, parece que está de saída, com pressa de terminar a bebida...

Então ele abre o paletó e retira do bolso interno um envelope, abre-o e retira uma carta dobrada em três partes, fixa os olhos sobre ela, fico com a impressão que aquela carta já tivesse sido lida antes.

Ele coloca-a novamente no envelope, retira do bolso direito da calsa um isqueiro prateado, acende sua chama, admira-a por uns segundos e então coloca fogo na cartas.

Segurando com a mão esquerda a carta e com o isqueiro na direita ele espera até que a chama se complete, deposita a carta e seu envelope sobre um cinzeiro branco manchado e fica apenas olhando ambos queimando, enquanto desfruta de suas ultimas gotas de bebida, quando a chama se apaga ele levanta-se, faz um sinal para o bar man, deposita duas notas sob o copo vazio e sai, chega até mim, olha fixamente em meus olhos sem falar nada, apenas cumprimenta-me com  o chapéu, empurra a porta lateral e some na neblina da fria noite.

O bar man, recolhe o dinheiro, a garrafa e o copo, mas não toca no cinzeiro, levanto-me e chego até ele, olho dentro das cinzas encontro apenas um pedaço final da carta, nela apenas três palavras duma frase sem fim: “... apenas saudades de ti.


francoa

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