13 de agosto de 2008

A Senhorita Catarina

Em uma pacata e pequena cidade do interior vivia uma belíssima burguesa de aproximadamente vinte e dois anos, gorduchinha e roliça, carnes as mais viçosas e apetitosas, todas as formas modelares, ainda que um pouco cheias, e que acrescentava a tão fartos encantos presença de espírito, vivacidade, e gosto o mais aguçado por todos os prazeres que lhe proibiam as rigorosas leis da sociendade.

Casada e exemplar dona de casa, há alguns anos decidira arranjar dois ajudantes para seu marido que, sendo velho e feio, a ela não somente desagradava  muito, como também cumpria mal o seu papel.

Talvez, com um pouco mais de desempenho, poderiam acalmar a incansável Catarina - assim se chamava nossa bela burguesa.  Nada mais bem combinado do que os encontros marcados com esses dois amantes: Rafael, jovem militar, ficava normalmente das quatro às cinco horas da tarde, e das cinco e meia às sete chegava

Guilermo, jovem negociante com o rosto mais bonito que o mundo já fez. Eram os únicos em que a sra.  Catarina estava tranqüila: de  manhã,  era preciso estar na loja e, à tarde, também tinha de aparecer por lá algumas vezes, ou então o marido voltava para casa, e deviam falar de seus negócios. 

Por sinal, a Sra. Catarina havia confidenciado a uma de suas amigas que ela gostava muito que os momentos de prazer se sucedessem assim muito próximos um do outro: a chama da imaginação não se apagava, ela assegurava; desse modo, nada mais temo do que passar de um prazer a outro.

Não era difícil retomar a ação, pois a sra. Catarina era uma criatura encantadora que calculava ao máximo todas as sensações do amor; pouquíssimas mulheres tinham tanto conhecimento dos pontos de prazeres do seu próprio corpo como ela própria e, em virtude dos seus talentos, reconhecera que, depois de muito calcular, dois amantes valiam muito mais do que um.

Com respeito à reputação, era quase a mesma coisa, um encobria o outro. Poderiam se equivocar, poderia ser sempre o mesmo a entrar e sair várias vezes durante o dia, mas em relação ao prazer, quanta diferença!

Certo dia a ordem fixada nos encontros veio a se perturbar, e nossos dois amantes, que nunca se tinham visto, conheceram-se de maneira engraçada, conforme relatarei.  Rafael foi o primeiro, mas chegara muito tarde, e como se o diabo tivesse se intrometido no horário, Guilermo, que era o segundo, chegou um pouco mais cedo. Infelizmente, um encontro infalível sucedeu. Nosso jovem militar, cansado do papel de amante, quis, por uns momentos, representar o de conjuge, ao invéx de ir embora após o tórrido romançe, quiz ficar montado em sua “esposa” por algum tempo, deitados como diríamos “de conchinha”. A sra.  Catarina que, nua como a Vênus, e encontrando-se perfeitamente encaixada em seu amante, apresentava, diante da porta do quarto onde se celebravam os mistérios do prazer e do amor.

Tal era a atitude quando Guilhermo, acostumado a entrar sem dificuldade pela janela lateral do porão, chega cantarolando baixinho, entra no seu ninho de prazer e vê por um ângulo o que uma mulher verdadeiramente honesta não deve fazer. O que teria causado grande prazer a muitas pessoas fez com que Guilermo recuasse.

- O que vejo? - exclamou - ... traidora... é isso que me reservas?

Sentía-se o próprio marido traído, mesmo sendo este, apenas um amante.

A sra.  Catarina que, naquele momento, se encontrava numa dessas crises em que uma mulher age infinitamente melhor do que raciocina, resolve mostrar-se audaciosa:

- Que diabo tens tu, - diz ela ao segundo - sem deixar de se entregar ao outro

- Não vejo nisso nada que te cause muito pesar...  não nos perturbes, meu amigo, e contentate com o que te resta; como bem podes notar, há lugar para dois.

Guilermo, não conseguindo deixar de rir do sangue-frio de sua amante, pensou que o mais simples era seguir o conselho dela, não se fez de rogado.

Dizem que os três lucraram com isso...


francoa

Nenhum comentário: